Stallone, o velho novo rei de Tulsa

Foi a melhor estreia do ano em termos de televisão linear nos Estados Unidos. As pessoas querem claramente ver Stallone

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Sylvester Stallone é Dwight Manfredi, um mafioso nova-iorquino que passou um quarto de século atrás das grades, em Tulsa King DR

Dwight Manfredi foi preso há 25 anos, tinha ele 50. Um caporegime, ou capitão, da família Invernizzi da máfia nova-iorquina, foi dentro para salvar o patrão de uma acusação de homicídio. Durante o quarto de século que esteve atrás das grades, manteve-se calado e nunca denunciou ninguém, preferindo defender-se das tentativas de homicídio e cultivar-se, lendo clássicos da literatura.

À saída, num mundo completamente diferente daquele onde tinha experimentado a liberdade pela última vez, os chefes trocam-lhe as voltas e recambiam-no para Tulsa, no Oklahoma, onde não há praticamente actividade mafiosa, um admirável mundo novo para ele trabalhar. Não conhece lá ninguém, mas não tarda a formar uma equipa.

É esta a premissa de Tulsa King, a série criada por Taylor Sheridan, o actor tornado argumentista responsável pelos guiões de Sicario - Infiltrado ou Hell or High Water - Custe o Que Custar!, sempre com vontade de olhar para zonas rurais e personagens que muitas vezes não são humanizadas noutro tipo de ficção, bem como a série Yellowstone, e gerida por Sheridan a meias com Terence Winter, que escrevia para Os Sopranos, criou Boardwalk Empire e escreveu O Lobo de Wall Street para Martin Scorsese.

A série, um original da Paramount+ que chegou a Portugal via SkyShowtime, o novo serviço de streaming, no final de Novembro, traz Sylvester Stallone, pela primeira vez, à ficção televisiva durante mais do que um ou dois episódios. Ainda vai quase a meio da primeira temporada, tendo sido renovada pouco após da estreia para uma segunda. É que, quando o episódio de estreia passou no canal de cabo da Paramount, foi a melhor estreia do ano em termos de televisão linear nos Estados Unidos. As pessoas querem claramente ver Stallone, aqui rodado por actores como Jay Will, Andrea Savage, Max Casella, Martin Starr, Garrett Hedlund, Dana Delany ou Anabella Sciorra.

E Stallone, que é também produtor executivo da série, está em boa forma como Manfredi, o mafioso de 75 anos que olha para trás para as escolhas que o levaram até onde está sem grande orgulho, uma personagem que anda entre o drama e a comédia. A esposa deixou-o, a filha não quer saber dele, os princípios e código de honra por que se regeu não lhe trouxe nada de bom. Ainda assim, é feito de carisma e charme. Chega a Tulsa e quase imediatamente recruta o taxista que o leva do aeroporto para um hotel para ser seu condutor. Pára num dispensário de marijuana legal e, com violência, põe KO o segurança e convence o dono a dar-lhe uma boa percentagem dos rendimentos em troco de protecção – que nem é bem necessária. Passado pouco tempo, já são todos amigos e colaboradores. É assim que ele funciona, e quase nos esquecemos de que a sua tarefa é trazer um pouco de máfia para aquela terra.

Manfredi é alguém que vê com estranheza o mundo actual. A série exagera por vezes nos choques culturais de um homem de idade que passou mais de duas décadas no cárcere, mas mostra-o com uma mente aberta. A escrita, nesse campo, é frequentemente atabalhoada e pateta. O protagonista é ligeiramente infoexcluído, mas mais por não ter tido oportunidade de acompanhar do que por uma insistência em ser um homem analógico num mundo digital. Há uma cena em que, por exemplo, fuma demasiada erva, fala da confusão que lhe causam pronomes para diferentes identidades de género, mas menos numa de exclusão e mais numa de não conseguir acompanhar e só explica isto por estar sob o efeito de drogas.

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