Michel pede a Xi que “use a sua influência sobre a Rússia” para acabar guerra na Ucrânia
Líder do Conselho Europeu foi a Pequim e discutiu a guerra na Ucrânia com o Presidente chinês, que voltou a pedir uma solução negociada para o conflito.
O presidente do Conselho Europeu esteve esta quinta-feira em Pequim e pediu ao Presidente chinês que “use a sua influência sobre a Rússia” para pôr fim à guerra na Ucrânia, como afirmou o próprio Charles Michel depois do encontro. Já Xi Jinping comprometeu-se a aumentar a comunicação e a coordenação estratégica com a União Europeia e afirmou que a China “continuará de portas abertas para as empresas europeias”.
A primeira reunião de alto nível entre responsáveis europeus e chineses em três anos, desde que começou a pandemia de covid-19, durou praticamente três horas e teve um cardápio rico e variado: a guerra na Ucrânia, as relações económicas UE-China, a política chinesa “covid zero”, Taiwan, o respeito pelos direitos humanos na China e a crise climática.
No fim do longo encontro, porém, nem Michel nem Xi anunciaram qualquer resultado concreto da conversa, cada um transmitindo à imprensa, em separado, o que considerou serem os pontos-chave da discussão.
“Pedi ao Presidente Xi, como já tínhamos feito na cimeira UE/China de Abril, que use a sua influência sobre a Rússia para que [esta] respeite a Carta das Nações Unidas”, afirmou Charles Michel aos jornalistas, revelando que o chefe de Estado chinês lhe garantiu que “a China não está a fornecer armas à Rússia” e considera “que as ameaças nucleares não são aceitáveis nem responsáveis”.
Numa reunião bilateral com Joe Biden à margem da cimeira do G20, em meados de Novembro, Xi Jinping disse que americanos e europeus exageravam na influência que ele tem sobre Vladimir Putin.
De acordo com a televisão estatal chinesa CCTV, Xi defendeu perante Michel a necessidade de uma solução política para a Ucrânia, sublinhando que “resolver a crise ucraniana por meios políticos é do interesse da Europa e de todos os países da Eurásia”. Uma vez mais, como tem sido hábito desde Fevereiro, o Presidente chinês não condenou directamente a Rússia pela invasão, realçando apenas que é preciso “evitar uma escalada e uma expansão da crise”.
No capítulo das relações económicas entre os 27 e o gigante asiático, Xi disse esperar que a União Europeia “aproveite as oportunidades do enorme mercado da China” e garantiu que o país se mantém “aberto às empresas europeias”. O mesmo deverá acontecer em sentido contrário, alertou: “[A China] espera que a UE rejeite interferências e dê às empresas chinesas um ambiente empresarial justo e transparente.”
Segundo um comunicado do seu porta-voz, Charles Michel sublinhou que as trocas comerciais entre a UE e a China “são benéficas para ambas as partes”, mas referiu “as dificuldades que enfrentam as empresas e investidores europeus, que foram exacerbadas pela pandemia.”
“Do lado europeu, o acesso ao mercado é muito aberto, enquanto na China há vários sectores que permanecem muito mais fechados”, disse Michel. “Precisamos de mais reciprocidade, de uma relação mais equilibrada.”
O comunicado europeu diz também que os dois políticos falaram do combate à covid-19 e partilharam experiências sobre “as medidas tomadas e a resposta das [respectivas] sociedades”. As autoridades chinesas deram esta quinta-feira um sinal de que estão disponíveis para aliviar a política de “covid zero” que esta semana deu azo a protestos de dimensão pouco habitual em várias cidades.
Aos jornalistas, Charles Michel garantiu que não se quis imiscuir nos assuntos internos da China. “Isto tem que ver com defender os princípios adoptados pelas Nações Unidas há décadas”, afirmou o presidente do Conselho Europeu.