Teletrabalho é uma melhoria ou um problema? Escola de Saúde Pública estuda impacto
Perguntas são lançadas pela Escola Nacional de Saúde Pública que avançou com um estudo que pretende avaliar de que forma o teletrabalho poderá afectar o bem-estar dos trabalhadores.
O teletrabalho “é uma melhoria que a covid-19 trouxe, porque evita deslocações, facilita a relação entre trabalho e família, permite uma flexibilidade que não existia?” Ou “é mais um problema” que a pandemia criou, “com mais isolamento, menos capacidade de afastamento do trabalho e uma vida infernizada pela tecnologia?” As perguntas são lançadas pela Escola Nacional de Saúde Pública (ENSP) que avançou com um estudo que pretende avaliar de que forma o teletrabalho poderá afectar o bem-estar dos trabalhadores.
A ideia de avaliar o impacto do teletrabalho, explica ao PÚBLICO Julian Perelman, um dos coordenadores do estudo, “surgiu de maneira óbvia”. Com a pandemia e os confinamentos aplicados em 2020 grande parte dos trabalhadores e estudantes teve rapidamente de passar a trabalhar ou a ter aulas em casa. “Foi uma situação complicada. Todos constatamos a existência de dificuldades técnicas, durante o isolamento, houve relatos de pessoas com dificuldades económicas que não tinham Internet para as crianças poderem assistir às aulas”, recorda, salientando que condições de trabalho difíceis têm impacto na saúde mental e na saúde física.
O tema era novo para muitos e a ENSP recolheu dados sobre o teletrabalho através do barómetro que criou para avaliar o impacto e as percepções da população sobre a pandemia. “Também por aí tínhamos algumas indicações do que podia estar a acontecer. Não fomos, obviamente, os únicos a levantar a questão. Também os sindicatos e os partidos políticos o fizeram. Criaram-se leis relativas ao teletrabalho em Portugal e noutros países. Havia um sentimento de urgência e tomaram-se decisões com pouca evidência para a sustentar”, refere.
As medidas para responder à pandemia alteraram-se, mas o “tema continua actual”, salienta o investigador, tendo em conta que haverá empresas que adoptaram por completo o teletrabalho e trabalhadores que mantêm o desejo de continuar com esta opção. “Antes de mais, o que queremos é descrever a situação. É sabido que existe uma relação entre o trabalho e a saúde”, diz.
Primeiros dados em Janeiro
Para este estudo, a ENSP fez uma parceria com o Conselho Económico e Social que permitiu a angariação de cerca de 30 empresas interessadas em participar. É através destas que está a ser enviado um inquérito aos funcionários e que também está aberto à população geral que queira participar.
As perguntas são variadas, como explica o investigador. “O tipo de contrato que tem, qual o seu estatuto, se tem flexibilidade [de horário], questões genéricas que se sabe terem relação com a saúde. E depois colocamos perguntas especificas em relação ao teletrabalho: quais as condições que tem, equipamento, nível de luz, aquecimento, se tem um espaço próprio para trabalhar, como é a articulação com a vida familiar”, exemplifica, referindo ainda questões relacionadas com o horário e o direito a desligar do trabalho e há custos suportados ou não pela empresa.
O processo terá entretanto uma outra parte direccionada às empresas, procurando perceber se houve ou não um aumento da produtividade e de ganhos económicos. Existirão entrevistas aos gestores, num trabalho mais qualitativo, que se centra em temas também relacionados com a organização e a percepção relativa ao teletrabalho.
Os primeiros resultados, ainda preliminares, deverão ser conhecidos em Janeiro do próximo ano, mas “o projecto foi pensado a longo prazo”. Para isso, o questionário será repetido, durante algum tempo, aos inquiridos para avaliar a evolução da situação. Essa continuidade permitirá também outras análises mais detalhadas, como na área da saúde mental e física e condições de trabalho. Os dados serão partilhados com o Governo “para ajudar a definir políticas” nesta área e a sustentar decisão já tomadas ou futuras.