Cinco palestinanos mortos numa onda de violência que é uma “quase-Intifada”

Organização Save The Children diz que este foi o ano em que morreram mais menores palestinianos na Cisjordânia desde 2006. Enviado da ONU fala em “ponto de ebulição” no conflito.

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Operação militar israelita na semana pasasada, perto de Nablus ALAA BADARNEH/EPA

Cinco mortes palestinianas foram relatadas esta terça-feira, em diferentes incidentes na Cisjordânia: dois irmãos perto de Ramallah, dois homens perto de Hebron, e um suspeito atacante palestiniano que lançou o seu automóvel contra uma militar, que ficou ferida, num colonato perto de Ramallah – todos mortos a tiro, estariam, segundo o exército israelita, a lançar pedras e cocktails Molotov contra soldados.

O Ministério da Saúde da Autoridade Palestiniana, citado pela Reuters, disse que desde o início do ano morreram já 205 palestinianos, incluindo na Faixa de Gaza.

Por outro lado, a Reuters indica a morte de 23 civis e oito agentes de forças de segurança em ataques palestinianos em Israel e na Cisjordânia.

A organização não-governamental Save The Children dizia ainda, na semana passada, que o ano de 2022 era já o mais mortífero para menores palestinianos dos últimos 15 anos.

Depois da morte de Mahmoud al-Sadi, 17 anos, a caminho da escola, na segunda-feira passada, e de Ahmad Shehadeh, 17 anos, num raide nocturno em Nablus, na terça-feira, o número de menores mortos era de 34, fazendo deste o ano com mais menores mortos na Cisjordânia desde 2006, sublinhava a Save The Children.

A organização notava também a morte de um estudante de 15 anos com dupla nacionalidade, israelita e canadiana, num atentado com duas explosões coordenadas em paragens de autocarros em Jerusalém, algo que já não se registava há muito na cidade e trouxe memórias da segunda Intifada (2000-2005).

O coordenador especial das Nações Unidas para o processo de paz, Tor Wennesland, avisou esta segunda-feira para o perigo da situação actual: “Após décadas de violência continuada, expansão ilegal de colonatos, negociações em hibernação e ocupação intensificada, o conflito está de novo a chegar a um ponto de ebulição.”

A “quase-Intifada”, como lhe chama Amos Harel, jornalista especialista em questões de segurança do diário Haaretz, tem sido marcada por incursões quase diárias do exército israelita no Norte da Cisjordânia, focando-se em Jenin, primeiro, e depois Nablus (as primeiras aconteceram em Abril depois de uma série de ataques contra israelitas, dois dos atacantes eram da zona), e também por ataques palestinianos contra israelitas, desde os levados a cabo por “lobos solitários” até outros coordenados por novos grupos armados. Há ainda um aumento de ataques de colonos contra palestinianos que vão além dos chamados ataques “price tag”, em que colonos destroem propriedades palestinianas a seguir a atentados palestinianos que causem vítimas mortais.

Se as pedras são o símbolo da luta palestiniana, e a acção de as atirar foi entretanto criminalizada por Israel (se o objectivo for magoar, há uma pena de até 20 anos de prisão), o diário Haaretz conta que residentes de colonatos estão agora a atirar pedras a carros de palestinianos.

Tudo isto acontece num ambiente político que mudou depois das últimas eleições, a 1 de Novembro, em que o bloco do antigo primeiro-ministro Benjamin Netanyahu teve maioria graças à presença da extrema-direita, com o chefe de um dos partidos, o deputado Itamar Ben-Gvir, a ter prometida a pasta da Segurança Nacional.

Num incidente recente, um soldado agrediu com um murro um activista de esquerda em Hebron, e um outro soldado disse aos activistas que filmam que “Ben-Gvir vai resolver as coisas” e “pôr ordem nisto”: “acabou-se, vocês perderam”, disse ainda o soldado, a ser filmado. À pergunta do activista sobre se estava a fazer algo ilegal, o soldado respondeu: “Tudo. Eu sou a lei.” O militar acabou por ser condenado a dez dias de prisão, segundo dizia esta terça-feira o diário The Times of Israel.

Ben-Gvir, assim como o seu parceiro na aliança para estas eleições, Bezalel Smotrich, defendem que as forças de segurança possam disparar sem restrições em mais situações, incluindo contra quem atire pedras.

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