Selecção nacional tem a carga pronta para meter nos contentores

Portugal tem todo o plantel disponível para defrontar o Gana num estádio feito de contentores. Nuno Mendes está apto, pelo que resta saber como está Ronaldo. Problemas do capitão serão irrelevantes?

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EPA/JOSE SENA GOULAO
O estádio 974, em Doha
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O estádio 974, em Doha Reuters/HAMAD I MOHAMMED

Nesta quinta-feira, frente ao Gana (TVI, às 16h de Portugal continental), a selecção nacional vai jogar entre 974 contentores de carga. Este é o número exacto de contentores que ajudam a manter em pé o estádio 974, recinto inovador e sustentável – após o Mundial, vai ser desconstruído e os contentores enviados para construção de recintos noutros eventos e noutros países.

E Portugal tem a “carga” pronta para meter nos contentores. Nuno Mendes estava em dúvida para este jogo, mas já treinou nesta quarta-feira com a restante “carga” – os outros 25 jogadores. Em suma, todos estão prontos para mostrarem que às selecções africanas continua a faltar qualquer coisa para serem reais ameaças em Mundiais.

Para o fazer, Portugal tem, em primeira instância, de lidar com uma possível inferioridade numérica nas bancadas. “O português pode estar dividido nas convocatórias, mas, quando o futebol começar, as praças vão estar cheias e as pessoas agarradas ao televisor”, disse Fernando Santos na antevisão da partida. Possivelmente, disse-o já informado pela federação do tipo de apoio que haverá – até ver, foi mesmo o televisor que mais portugueses seduziu.

Não é claro que o Gana tenha em Doha mais adeptos do que Portugal, mas é certo que uma enchente portuguesa é um cenário para esquecer, já que não há qualquer vislumbre de fervor nacional pelas ruas da cidade.

Por cá, há Ronaldos, sim – como há em todo o mundo. Mas uma boa parte deles não parece ter nascido em Portugal.

Leão e Ronaldo?

Se o tipo de apoio no estádio 974 é uma incógnita, o certo é que por lá haverá Portugal e haverá Gana. E haver Gana é haver uma equipa com vários jogadores de bom nível, mas um colectivo com parcas conquistas ao longo dos anos. Mais uma selecção africana que não coloca a favor da equipa os predicados individuais que tem? Fernando Santos não “compra” esta teoria.

“As equipas africanas têm muito talento e cada vez vão crescendo mais nos aspectos tácticos. Hoje já são equipas mais completas do que há alguns anos, em que eram muito individuais. Antigamente havia maior diferença”, apontou, numa antevisão na qual surgiu com esgar e discurso relaxados, mas, por vezes, enfadado com as perguntas recorrentes sobre Cristiano Ronaldo.

E olhou para o passado: “O Mundial 2018 foi uma competição que veio a seguir a um incidente [invasão a Alcochete] e seis ou sete jogadores chegaram sem clube ou não sabiam se sairiam ou não. Apesar de o ambiente ser muito bom, foi algo que desviou as atenções. Houve jogadores a fazer contratos naquela altura”, analisou. Em 2018, jogadores sem clube foram um problema. Porém, em 2022, o seleccionador parece não concordar que o facto de o capitão e principal jogador da selecção ter ficado sem clube há algumas horas (e, possivelmente, esteja a fazer contratos) justifique insistência na temática. Ou justifique sequer problemas na equipa ou no próprio jogador.

Futebolisticamente há algo em Ronaldo que é tema recorrente: se a selecção joga melhor ou pior sem ele. No único jogo de preparação feito antes deste Mundial, Portugal voltou a apresentar um futebol dinâmico e criativo, algo que já foi apontado como uma virtude da equipa quando não há Ronaldo.

Mas Fernando Santos – que, sem o dizer taxativamente, sugeriu que o capitão será titular – garante que quer uma equipa igualmente dinâmica frente ao Gana. “Vai ser igual ao que foi com a Nigéria. Dinâmica e criativa. Vamos jogar assim”, disparou. E detalhou, em modo de alerta: “Houve alegria, dinâmica, versatilidade, imprevisibilidade e capacidade de organização e reorganização na reacção à perda. Fizemos 35 minutos muito bons, mas depois não podemos desligar do jogo.”

No capítulo táctico, quem fará o papel de Diogo Jota? Rafael Leão é a opção mais evidente, mas isso poderá criar à equipa problemas no controlo defensivo do corredor esquerdo, já que o ala do AC Milan não é dos jogadores mais comprometidos e intensos sem bola.

Como diria qualquer fã do futebol moderno, a forma de não sofrer sem bola é... ter a bola. Nessa medida, caso queira juntar Leão e Ronaldo, então é bom que a bola passe grande parte do tempo nos pés de jogadores como Neves, Bernardo, Vitinha, William ou Bruno Fernandes.

A outra solução, mais cautelosa, será a de dar a Bruno Fernandes ou Otávio a missão de fecharem o lado esquerdo quando a equipa estiver sem a bola. Aí, o cenário passará por ter um 4x4x2 mais clássico, com Leão e Ronaldo na frente.

E como/onde encaixar jogadores como Félix ou Bernardo? Veremos amanhã. O melhor que se pode dizer do privilégio de Fernando Santos é que, ao contrário de outros anos, não é fácil adivinhar o “onze”.

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