Andor: “Nas séries Star Wars, somos aquela que é suposto ser diferente”

Três perguntas a Diego Luna, protagonista de uma das melhores séries do ano. Sem spoilers e só com cinco minutos para explicar o segredo do seu sucesso no dia em que acaba a temporada.

Foto
Diego Luna como Cassian Andor Lucasfilm

Andor é uma das melhores séries do ano e dá-se o caso de ser uma série Star Wars mas não recorrer a bebés verdes, sabres de luz ou momentos de grande reconhecimento dos anos 1980 para gerar tais elogios. Diego Luna está a anos-luz de E A Tua Mãe Também (2001) e tem pouco tempo para o exército de jornalistas com quem tem de falar, cinco absurdos minutos de cada vez, para promover o final de Andor, a série baptizada com o nome da sua personagem, o rebelde em construção Cassian Andor.

A série da Disney+ criada por Tony Gilroy (Sicario — Infiltrado, Michael Clayton, trilogia Bourne) é um inegável sucesso junto da crítica e faz um malabarismo único com a “gramática Star Wars” — não lhe prestou grande reverência, deixou-a para o design de produção e direcção de arte e seguiu em frente com um drama familiar, um filme de prisão, um thriller de espionagem, uma polícia política e o proletariado. Gilroy e Luna, que sorri gentilmente no Zoom, são os nomes mais sonantes de Andor, mas este é um trabalho escrito também por Beau Willimon (House of Cards) ou Dan Gilroy (Nightcrawler — Repórter na Noite), e estas são histórias de personagens como Mon Mothma (Genevieve O’Reilly), Kino Loy (Andy Serkis) ou Luthen (Stellan Skarsgård).

É com eles que começa a revolução que culmina no filme Rogue One (2016) e que se mistifica na saga Skywalker. “O que é que sentimos sob opressão? O que é viver sem liberdade? Como é que representamos isso? Olhando para pessoas comuns a viver nessas condições.”

Sente que está num tipo de história Star Wars diferente? É uma narrativa mais adulta, em comparação com outras séries neste universo.
Sim, decididamente. E era isso que queríamos. A beleza do que tenho lido nas críticas e nas reacções dos fãs nas redes sociais é que falam do que esperávamos que falassem. Usam palavras que usávamos muito nas filmagens: “realista”, “maduro”, “complexo”, “político”, “negro”. Adoro que a Lucasfilm tenha decidido correr esse risco e fazer algo diferente. Há muita coisa a acontecer em Star Wars e decidimos fazer algo que apelasse a um público que procure ser desafiado. Felizmente o público está a aderir à série.

Tal como Rogue One, esta é a história da base da rebelião. Até agora é sobretudo povoada por humanóides e a Força e outros aspectos mais “místicos” de Star Wars não aparecem. Que efeito procuravam no espectador e que efeito é que isso teve na sua composição da personagem?
Quando penso no Cassian evoco questões que conheço e que são importantes na minha vida. É preciso haver essa ligação. Se esquecermos por um segundo que isto é uma galáxia muito, muito distante, é algo muito próximo da realidade que experienciamos. Vamos fazer-vos sentir que estão a testemunhar a vida dos vossos vizinhos. Os momentos íntimos têm de ser únicos e realistas. Era o nosso objectivo.

Rogue One já era suposto ser diferente — foi-nos pedido que fossemos diferentes. E desta vez aconteceu o mesmo: no mundo de séries que Star Wars está a explorar, somos aquela que é suposto que seja diferente. Temos essa liberdade. E Gilroy sabe o que fazer com a liberdade. Eleva-a ao nível acima. É um grande escritor, mas também um grande realizador. Compreende o processo do princípio ao fim.

Comprometemo-nos com esta série, que é sobre o despertar de uma revolução; por conseguinte, é sobre o que torna possível uma revolução, qual tem de ser o contexto para que irrompa. Por isso, é sobre muitas histórias, muitas pessoas e muitas personagens, pessoas normais que vivem em condições que já não aguentam. O que é que sentimos sob opressão? O que é viver sem liberdade? Como é que representamos isso? Olhando para pessoas comuns a viver nessas condições.

A primeira temporada termina esta quarta-feira, e a segunda abarcará os próximos quatro anos de Cassian Andor. No fim destes primeiros 12 capítulos, qual é o espírito que os resume, mas também o que representam para si?
É de facto o despertar de uma revolução, mas não de forma convencional em que se segue uma só personagem. Cassian é um pretexto para compreendermos o contexto. Vemos acontecimentos que se tornam muito importantes na construção desta consciência. Ele é um homem perdido, num momento muito cínico, e que percebe que pode fazer parte da mudança. O que tem de acontecer na vida de alguém para lá chegar é o que vemos nesta primeira temporada.

E não é fácil, porque Tony Gilroy decidiu abrir as coisas: mostrar-nos também o outro lado, a vida e o significado para quem trabalha para o Império. Mas no fundo, esperamos mesmo é mostrar-vos o que tem de acontecer para um homem normal acreditar que pode fazer parte de algo maior.

Foto
Stellan Skarsgard e Diego Luna Lucasfilm
Sugerir correcção
Ler 4 comentários