Activistas climáticos ocupam restaurante Gordon Ramsay, em Londres
Activistas do Animal Rebellion ocupam restaurante com três estrelas Michelin, em Londres, para reivindicar um sistema alimentar baseado em vegetais, mais justo e amigo do ambiente.
Activistas climáticos ocuparam o restaurante Gordon Ramsay, um espaço com três estrelas Michelin localizado numa zona nobre de Londres, na Inglaterra, para protestar contra a “perfeita desigualdade” do sistema alimentar britânico – e o impacte que isto tem na crise climática.
“Este restaurante é o exemplo perfeito da desigualdade que enfrentamos no Reino Unido agora. Enquanto Gordon Ramsay serve alimentos que custam no mínimo 155 libras [quase 190 euros] por pessoa, mais de dois milhões de pessoas dependem de ajuda alimentar com esta crise [inflacionária] do custo de vida”, afirma Lucia Alexander, de 39 anos, citada numa nota de imprensa do Animal Rebellion. Esta organização defende uma alimentação baseada em vegetais por forma a reduzir a emissão de gases de efeito estufa.
O restaurante luxuoso do grupo Gordon Ramsay, o famoso chef britânico, foi ocupado por 14 activistas pelas 18h30 de sábado, refere o comunicado. As imagens divulgadas mostram os manifestantes vestidos com roupas elegantes, sentados à mesa e a segurar menus verdes onde se pode ler “um futuro baseado em vegetais”.
“Em vez de restaurantes que obtêm lucros colossais às custas de animais, trabalhadores e do clima, precisamos alimentar todos, apoiando agricultores e comunidades piscatórias para uma transição rumo a um sistema alimentar baseado em vegetais”, acrescenta a activista Lucia Alexander.
A Animal Rebellion invoca que um sistema alimentar à base de plantas requer “75% menos terras agrícolas para cultivar alimentos”. Assim sendo, argumentam os activistas, esta área poderia servir para alimentar milhões de pessoas sem recorrer a “indústrias exploradoras e ineficientes” na criação de gado”.
A organização afirmou na nota que, às 20h00 de sábado, o restaurante em Chelsea fechou e os activistas saíram “pacificamente” pela porta principal do estabelecimento.
O diário britânico Guardian refere que as autoridades policiais foram chamadas ao local, pouco antes das 18h30, mediante “denúncias de um grupo de manifestantes que se recusava a deixar o local”. Não houve detenções. A mesma fonte afirma que um porta-voz do restaurante Gordon Ramsay disse que as reservas foram canceladas naquele dia.
“Todos têm direito às suas opiniões e crenças. No entanto, forçar a entrada num restaurante, perturbar funcionários que trabalham duro e arruinar a noite de clientes que esperaram meses por estas reservas é incrivelmente inapropriado e profundamente desrespeitoso”, referiu o porta-voz citado pelo Guardian.
Apelo a David Attenborough
Esta não é a primeira vez que a Animal Rebellion faz protestos em restaurantes com estrelas Michelin. Na noite da quinta-feira passada, segundo uma nota de imprensa, a activista e bióloga marinha Emma Smart abordou o naturalista britânico David Attenborough no Catch, no antigo mercado do peixe de Londres, desafiando o apresentador a usar o seu prestígio para promover uma reforma do sistema alimentar global durante a Cimeira do Clima das Nações Unidas, que terminou este domingo no Egipto.
“O Catch é um símbolo de excesso e desigualdade no mundo de hoje, [a doca de] Weymouth tem salários médios entre os mais baixos do Reino Unido e corre um grande risco com a subida do nível do mar. No entanto, este restaurante ainda continua a funcionar normalmente durante a pior subida do custo de vida que muitos de nós já vivenciaram”, disse Emma Smart, segundo o comunicado, uma activista que já participou em acções do Extinction Rebellion.
“Não precisamos de outra série de documentários a mostrar que estamos a perder cerca de 150 espécies todos os dias no planeta. O que precisamos é de acção. Sir David está numa posição única para dizer a verdade sobre a crise da biodiversidade. Ele tem a chance de deixar um legado de amor, carinho e de ser o precursor por um mundo melhor”, acrescenta a activista que, segundo o mesmo documento, foi retirada do estabelecimento por funcionários e autoridades policiais e, posteriormente, algemada.
O activista Andy Smart, citado no mesmo documento, argumenta que a crise climática e escalada do custo de vida nas grandes cidades estão interligadas – e que, por isso, “a solução fundamental para ambas é a mesma”.
“Precisamos de uma grande mudança política para apoiar os agricultores e as comunidades piscatórias na transição para um sistema alimentar baseado em vegetais. Isso produziria uma abundância de alimentos saudáveis, baratos e confiáveis, ao mesmo tempo em que reduziria as emissões de carbono”, afirma Andy Smart, citado no comunicado.
A Animal Rebellion apresenta-se como “um movimento que recorre à desobediência civil não violenta para exigir um sistema alimentar justo e sustentável à base de plantas”. A organização baseia-se no facto, comprovado pela ciência, de que a produção de carne (sobretudo bovina) é a actividade agrícola que mais gera emissões de gases de efeito estufa.
Há vários factores envolvidos: desde o uso intensivo de fertilizantes e água até ao facto de as próprias vacas produzirem metano quando arrotam, passando pelas vastas extensões de terra necessárias à actividade. Cerca de 45 milhões de hectares de floresta todo o mundo foram destruídos para dar lugar a criação de gado entre 2001 e 2015, segundo com o World Resources Institute.