Mundial. Selecções recuam no uso de braçadeiras arco-íris no Qatar
No limite, jogadores arriscariam expulsão antes do início da partida. Inglaterra, País de Gales, Bélgica, Dinamarca, Alemanha, Países Baixos e Suíça assinam declaração conjunta.
O uso da braçadeira com as cores do arco-íris no Qatar em apoio à comunidade LGBTQ+ parecia uma coisa certa para muitas selecções, mas a ameaça de admoestação automática para os capitães fez as equipas recuarem. Esta segunda-feira, as sete selecções que planeavam avançar com o gesto (Inglaterra, País de Gales, Bélgica, Dinamarca, Alemanha, Países Baixos e Suíça) anunciaram que já não o vão fazer, depois de serem ameaçadas pela FIFA com um cartão amarelo automático para o capitão.
No limite, explica o antigo árbitro Pedro Henriques ao PÚBLICO, os jogadores com a braçadeira arriscariam expulsão ainda antes do apito inicial, visto que esta fica à margem dos regulamentos da competição. Esse cartão vermelho podia, depois, alastrar-se aos outros jogadores: “Levando a lei ao extremo, em termos práticos, o árbitro vê no túnel que um jogador tem uma peça visível do equipamento que não está regulado e avisa-o de que não pode usar a peça. Se ele subir ao relvado com essa mesma peça, vê um amarelo ainda antes de começar o jogo. E se ele continuar a recusar tirar a braçadeira, leva o segundo amarelo e é expulso. A braçadeira passa para outro jogador e o ciclo repete-se.”
Cientes das consequências disciplinares que esta decisão pode acarretar, as federações decidiram não levar a jogo a braçadeira com as cores do arco-íris. “A FIFA foi muita clara ao dizer que vai impor sanções disciplinares se os nossos capitães usarem as braçadeiras [com as cores do arco-íris] em campo. Enquanto federações nacionais, não podemos colocar os nossos jogadores numa posição em que estes podem sofrer sanções disciplinares, incluindo admoestações, portanto pedimos aos nossos capitães que não tentem usar estas braçadeiras em jogos do Mundial. Estamos preparados para pagar multas, mas não podemos sujeitar os jogadores a situações em que podem receber cartões ou serem até obrigados a deixar o terreno de jogo”, escrevem.
As federações não escondem a frustração com esta alternativa, dizendo que esta acção “não tem precedente”. O pedido para o uso desta braçadeira, acusam, terá mesmo ficado sem qualquer resposta oficial por parte do órgão internacional: “Escrevemos à FIFA em Setembro, informando-os do nosso desejo de usar a braçadeira ‘One Love’ para apoiar activamente a inclusão no futebol e não recebemos resposta. Os nossos jogadores e treinadores estão decepcionados, são fortes apoiantes da inclusão e vão mostrá-lo de outras maneiras.”
Na véspera do torneio, a FIFA anunciou que apenas algumas mensagens seriam permitidas nas braçadeiras. Os slogans “O futebol une o mundo”, “Partilha a refeição” e “Traz as fintas”, campanhas da entidade que gere o futebol mundial, seriam as iniciativas permitidas nos braços dos capitães, afastando dos regulamentos o uso da braçadeira com as cores arco-íris da campanha “One Love” (Um amor).
Apesar da possível infracção e consequente punição, as federações delegaram para os jogadores a decisão de usar ou não esta braçadeira. Manuel Neuer, guarda-redes da selecção alemã, mostrou-se intransigente nesta vontade. Contudo, a decisão oficial foi tomada esta segunda-feira, a meras horas do jogo entre Inglaterra e Irão, com pontapé de saída marcado para as 13h.