Políticos têm de “aprender a aceitar a crítica” sem “lamentação democrática”, diz Marcelo

Marcelo Rebelo de Sousa falou na cerimónia de entrega dos Prémios Gazeta e manifestou-se “mais optimista” quanto à situação do jornalismo em Portugal, em comparação com anos anteriores.

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Chefe de Estado discursou na cerimónia de entrega dos Prémios Gazeta 2021 LUSA/TIAGO PETINGA

O Presidente da República, Marcelo Rebelo de Sousa, considerou esta quarta-feira que todos os políticos têm de “aprender a aceitar a crítica”, atribuindo-se também esse dever, e aconselhou a que se recuse “o discurso da lamentação democrática”.

O chefe de Estado falava na Câmara Municipal de Lisboa, na cerimónia de entrega dos Prémios Gazeta 2021, numa intervenção em que se manifestou “mais optimista” em relação à situação do jornalismo em Portugal do que em anos anteriores.

“Desta feita estou mais optimista. Estou mais optimista porque a última coisa que podemos fazer é o discurso da lamentação democrática. Não façamos esse favor a quem gosta menos do que devia gostar da democracia”, apelou.

Sem falar de nenhum acontecimento em concreto, Marcelo Rebelo de Sousa afirmou que “a democracia constrói-se pela positiva” e acrescentou: “Têm todos de aprender isso, os políticos têm de aprender a aceitar a crítica, eu tenho de aprender a aceitar a crítica, tomos temos aprender a aceitar a crítica”.

Ainda sobre estes prémios de jornalismo, o Presidente da República apontou-os como “uma afirmação de esperança” e defendeu que “onde não há uma comunicação social muito, muito forte não há uma democracia muito, muito forte”.

Na sua opinião, “viu-se aqui nestes prémios, vê-se ano após ano” que Portugal tem “condições para ter uma comunicação social muito, muito forte”.

“Ah, mas há outra comunicação social que não é bem aquela que desejamos, presa à espuma dos dias. Mas a espuma dos dias pode trazer consigo preocupações estruturais”, observou. No fim da sua intervenção, o chefe de Estado exclamou: “A luta continua, a democracia está viva”.

O presidente da Câmara Municipal de Lisboa, Carlos Moedas, também discursou nesta cerimónia realizada no Salão Nobre dos Paços do Concelho.

Os Prémios Gazeta são uma iniciativa do Clube de Jornalistas. Esta 37.ª edição teve o apoio principal da Câmara Municipal de Lisboa e da Associação Mutualista Montepio.

Marcelo pede estudo sobre situação socioeconómica de jornalistas

Ainda na cerimónia de entrega dos Prémios Gazeta 2021, Marcelo Rebelo de Sousa sugeriu a realização de um estudo sobre a situação socioeconómica dos jornalistas que trabalham na comunicação social escrita, radiofónica e televisiva, nacional, regional e local.

Esse “levantamento rigoroso”, propôs, seria feito como preparação do 5.ª Congresso dos Jornalistas, marcado para Janeiro de 2024. “Tem de ser um congresso que seja não o começo de um percurso, muito menos um momento de encontro de camaradas de profissão, mas o fim de uma preparação, que abre novas pistas para o futuro”, reforçou.

“Até Janeiro de 2024 terá de ser feito um estudo sobre a situação socioeconómica dos jornalistas, a todos os níveis. Sei que custa dinheiro, dá trabalho, mas tem de se saber como é na imprensa, na rádio, na televisão, na imprensa nacional, regional, local. Quem são hoje, como é que trabalham”, exemplificou.

No seu entender, esse estudo poderá ser realizado “em colaboração porventura até com o Ministério da Cultura e com fundações”.

De acordo com o Presidente da República, “os problemas críticos” do jornalismo a que se tem referido em anteriores edições destes prémios continuam “substancialmente presentes” na profissão: “a instabilidade económica, financeira, a precariedade, o recurso a soluções de emergência ou de expediente”.

Marcelo Rebelo de Sousa propôs também que se analise “o papel fundamental das escolas de jornalismo, como está a ser o ensino nas escolas, como se liga à realidade, como está a ser a riquíssima investigação científica sobre jornalismo”.

“E ou isto se prepara e se faz até Janeiro de 2024 ou, se não, será o muro das lamentações, e é pouco. Na actual situação e na situação previsível em termos económicos financeiros e sociais, é pouco”, concluiu.