“O Brasil está de volta”, diz Lula, e propõe Cimeira do Clima na Amazónia

Presidente-eleito anunciou na COP27 que vai fazer proposta às Nações Unidas. “Não haverá futuro enquanto continuarmos a cavar o fosso de desigualdade entre ricos e pobres”, afirmou.

Foto
"Não existe um segundo planeta", disse Lula KHALED ELFIQI/EPA

O Presidente-eleito brasileiro, Luiz Inácio Lula da Silva, passou pela Cimeira do Clima das Nações Unidas em Sharm el-Sheikh como uma estrela, acompanhado de multidões a cantarem o refrão “olé-olé-olé-olá-Lula-Lula” das suas campanhas eleitorais. “Compreendo que o convite que me foi feito [para ir à COP27], sem ter tomado posse, não foi para mim, foi para o povo brasileiro”, reconheceu Lula, no discurso na tarde desta quarta-feira.

i-video

O Presidente eleito brasileiro, Lula da Silva, não só quer levar a COP30 para o Brasil, como quer levá-la para a Amazónia.

Reuters,Tiago Bernardo Lopes

Não desiludiu quem o foi ouvir. Anunciou que não só quer levar a Cimeira do Clima de 2025 para o Brasil, como quer levá-la para a Amazónia. “Vamos falar com o secretário-geral da ONU e vamos pedir que seja no Brasil. Pode ser em dois estados, Amazonas ou Pará, logo se vê o que tem melhores condições”, prometeu, num evento com os governadores dos estados da Amazónia, na parte da manhã.

“Uma frase que tenho ouvido dizer a diferentes líderes é que ‘o mundo sente saudades do Brasil’. Quero dizer que o Brasil está de volta, para reatar laços com o mundo”, afirmou o novo Presidente-eleito brasileiro.

A oferta para receber a COP30 em 2025 é um passo importante para reabrir as portas do Brasil ao mundo. Tal como a promessa de proteger a Amazónia e os povos indígenas: “Vamos criar um Ministério dos Povos Originários, para que não sejam tratados como bandidos, como por vezes hoje acontece. Queremos dar dignidade às pessoas”, anunciou.

Prometeu lutar contra a desflorestação. “Se a biodiversidade da Amazónia tem a importância que todos dizem, como todos os cientistas dizem que tem, então não será preciso um esforço assim tão grande para convencer as pessoas de que uma árvore de pé vale mais do que uma árvore derrubada”, afirmou.

“Vamos priorizar a luta contra o desmatamento, que na Amazónia aumentou 73% nos três primeiros anos deste Governo [de Jair Bolsonaro]”, enumerou Lula da Silva. “O combate à mudança climática terá o mais alto perfil na estrutura do meu novo Governo”, prometeu.

“A democracia vai voltar”

“Não há segurança climática sem uma Amazónia protegida”, declarou. “Os crimes ambientais, que se generalizaram, serão combatidos sem tréguas. Vamos reconstruir o sistema de vigilância da Amazónia, que foi destruído”, avisou. Prometeu uma nova abordagem: “Vamos provar que é possível gerar riqueza tendo a natureza como aliada estratégica, e não como algo que é para ser combatido com uma motosserra”, declarou.

“O Brasil vai mudar. A democracia vai voltar a reinar no nosso país e o diálogo vai voltar”, prometeu. “No dia das eleições, salientei que temos um Brasil dividido em resultado das fake news e do discurso do ódio. Mas é importante sabermos que somos um só país. Também não existe um segundo planeta. Não haverá futuro enquanto continuarmos a cavar o fosso de desigualdade entre ricos e pobres”, salientou.

Mas o regresso de Lula da Silva à presidência do Brasil, a partir de 1 de Janeiro de 2023, trará algo de positivo para o resto do mundo, prometeu. “O Brasil está de volta para reatar os laços com o mundo e ajudar novamente a combater a fome. Para cooperar outra vez com os países mais pobres, sobretudo de África, com investimento e transferência de tecnologia”, garantiu.

Foto
Lula teve sempre uma multidão à sua volta na COP27 EPA/KHALED ELFIQI

Deixou um sinal positivo: “Espero que a contribuição do meu país seja a palavra que sustentou o Brasil nos momentos mais difíceis: esperança”, deixou no ar o Presidente-eleito.

“Em 2023, o Brasil vai ter uma presidência do G20, e as alterações climáticas terão prioridade. Há decisões que se foram tomando e não são cumpridas e a minha volta é também para cobrar aquilo que foi prometido”, anunciou Lula.

A plateia aplaudiu e cantou “o Brasil voltou, o Brasil voltou”.

“Voltei para fazer mais”

“Na COP15, em 2009, foi decidido que os países mais ricos canalizariam todos os anos 100 mil milhões de dólares para os países mais vulneráveis, para as ajudar a enfrentar as alterações climáticas. Isto seria feito até 2020, já acabou o prazo há dois anos. Repito: foi decidido na COP15 em 2009”, frisou Lula da Silva.

Falou no tema que tem marcado esta COP27 para dar um apoio claro à criação de um mecanismo para compensar as perdas e danos causados pelas alterações climáticas nas nações mais pobres. “Precisamos urgentemente de um mecanismo financeiro para compensar as perdas e danos que as mudanças climáticas estão a provocar nos países mais vulneráveis. Não podemos abandonar países cuja integridade e sobrevivência dos seus cidadãos está ameaçada”, espicaçou Lula.

Mas com o seu regresso à Presidência retomou um tema que tem sido cavalo de batalha da diplomacia brasileira: a reforma do Conselho de Segurança das Nações Unidas. “Tenho repetido, desde a minha anterior Presidência, entre 2003 e 2010, que não é possível que a ONU seja gerida com a mesma lógica do pós-Segunda Guerra Mundial. O mundo mudou e não há nenhuma justificação para que os vencedores dessa guerra continuem a ser os únicos que mandam no Conselho de Segurança”, declarou.

“Precisamos de uma governação global, que garanta que as decisões destes fóruns internacionais são cumpridas”, apelou. “Senão o tempo passa, a gente morre e as coisas não são aplicadas.”

Terminou o discurso com um aviso: “Não voltei para fazer o mesmo, mas para fazer mais. Esperem um Lula mais cobrador, para fazer um mundo melhor.”