Natureza Viva, Wanda e a Escrita-Cinema
Para lá da actual energia feminista que finalmente o compreende e amplifica, Wanda recai sobre um presente movimento da “redescoberta” de filmes que se tem espalhado um pouco por todo o lado.
No ensaio que desencadeia o seu primeiro e único (até agora) livro Too Much and Not the Mood, a escritora nascida em Montreal Durga Chew-Bose faz referência às cartas de amor aos muitos realizadores a quem já escreveu — cartas de amor porque “não dizem respeito aos trabalhos dos realizadores mas são endereçadas a eles — em espírito, tom e fluidez (wash)”. Só para mencionar alguns, Agnès Varda, Paul Mazursky, Claire Denis, John Cassavetes, Jane Campion, Chantal Akerman, à Nova Iorque de James Gray, a Wim Wenders e às suas estradas, ao Technicolor de Douglas Sirk, a Satyajit Ray, ou não fosse o nome que lhe deram à nascença o mesmo da irmã mais velha de Apu (Pather Panchali, 1955). A última menção é deixada para Barbara Loden. “Há dias em que não consigo ultrapassar as minhas frustrações a não ser que escreva à Wanda de Barbara Loden. Àquele último plano quando a câmara congela no murchar da sua cara. Ela está tão inutilizada, mas oh, tão consumida. Ou muito habituada.”, conta, fazendo um jogo-comentário de palavras com os significados e destinos opostos do verbo to use na língua inglesa, ou não fosse Wanda (1970) uma projecção do que é mudo num mundo tão sonoro.
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