Quatro alunos detidos em protesto pelo clima na Faculdade de Letras em Lisboa

Os estudantes em protesto climático começaram a sair pelo seu pé depois das 23h, mas alguns permaneceram no local. PSP nega brutalidade policial.

crise-climatica,greve-climatica,lisboa,combustiveis-fosseis,clima,alteracoes-climaticas,
Fotogaleria
Ocupação na Faculdade de Letras da Universidade de Lisboa DR
Manifestações decorreram durante esta semana em várias escolas e faculdades. Na imagem, a escola António Arroio
Fotogaleria
Manifestações decorreram durante esta semana em várias escolas e faculdades. Na imagem, a escola António Arroio Guillermo Vidal

Quatro estudantes foram detidas na noite de sexta-feira depois dos protestos pelo clima na Faculdade de Letras da Universidade de Lisboa (FLUL). Saíram da esquadra por volta das 4h da manhã e terão de comparecer em tribunal na segunda-feira. Os alunos em protesto climático estavam a ocupar a faculdade desde segunda-feira e estiveram no último dia em diálogo com a direcção da escola, mas foram avisados de que seriam expulsos pela polícia se não saíssem por sua livre vontade, informou uma das porta-vozes do movimento Fim ao Fóssil, Alice Gato.

Os quatro activistas foram detidos pela PSP, que os retirou por uma porta lateral do estabelecimento de ensino e os levou em duas carrinhas, segundo a informação prestada à Lusa por Alice Gato. A porta-voz do movimento adiantou ainda que “a semana foi surpreendente” e que “os estudantes demonstraram a sua força e a sua determinação” num combate por um futuro melhor. “Não estamos sozinhos nesta luta e vamos continuar a crescer”, salientou.

Todavia, Alice Gato manifestou-se “desiludida com os órgãos da Faculdade de Letras da Universidade de Lisboa por terem utilizado brutalidade policial” com os quatro activistas detidos. Os activistas “estavam a protestar desde segunda-feira de uma forma pacífica com reivindicações super justas (…) e depois a direcção da Faculdade de Letras decide arrancá-los de lá. Eles estavam colados ao chão e retiraram-lhes as mãos sem qualquer precaução”, acusou.

Os activistas climáticos que desde segunda-feira ocupam a Faculdade de Letras da Universidade de Lisboa começaram a sair da instalação académica às 23h40 de sexta-feira, constatou a Lusa no local. No total saíram nove membros do movimento estudantil “Fim ao Fóssil: Ocupa!”, tendo ficado quatro para identificação e eventual detenção policial.

A Polícia de Segurança Pública (PSP) negou “brutalidade policial” e garantiu que “apenas foi utilizada a força estritamente necessária” para deter os quatro activistas climáticos. Num comunicado, o Comando Metropolitano de Lisboa da PSP sublinhou que a detenção dos activistas, “por desobediência à ordem de dispersão”, “foi objecto de amplas filmagens por parte dos visados”.

No comunicado, a PSP confirmou que a 2.ª Divisão Policial foi chamada ao local, “a pedido da direcção da Faculdade de Letras da Universidade de Lisboa”, porque a permanência dos activistas estava a colocar “em causa a liberdade de circulação e ensino”.

Os alunos estiveram reunidos com a direcção até ao final da tarde de sexta-feira e a polícia encontrava-se nas imediações da faculdade.

À faculdade, os alunos exigiam mais do que apenas questões relacionadas com a crise climática: pediam o despedimento de “docentes que são conhecidos reincidentes de assédio” e a criação de vias oficiais para denúncias; pedem ainda cantina e alimentação acessível, assim como um menu social vegano; que todos os estudantes tenham uma habitação digna; que se melhore a eficiência energética da faculdade; que se criem mais espaços verdes; que se criem casas de banho sem género e que haja mais alunos nos órgãos de decisão da faculdade. Segundo informou uma das porta-vozes do movimento, da reunião com a direcção apenas se concordou com as casas de banho sem género.

Marcha contra fracasso este sábado

Os protestos têm acontecido desde segunda-feira por várias escolas e faculdades. Além da Faculdade de Letras da Universidade de Lisboa, também houve estudantes que ocuparam a escola artística António Arroio, o Liceu Camões, a Faculdade de Ciências Sociais e Humanas (FCSH) da Universidade Nova de Lisboa, assim como a Faculdade de Ciências da Universidade de Lisboa e ainda o Instituto Superior Técnico (IST).

Na escola artística António Arroio, em Lisboa, a direcção da escola cancelou as aulas previstas, mas os alunos continuam no recinto numa manifestação “mais tranquila” do que a de quinta-feira, em que bloquearam a entrada da escola.​

Em declarações à Lusa, Alice Gato adiantou que há também outros alunos que estão no Liceu Camões, onde pretendem ficar durante todo o fim de semana.

Na Faculdade de Ciências da Universidade de Lisboa, os estudantes estiveram dentro das instalações, num espaço cedido pela própria faculdade e onde organizaram mesmo uma “cantina vegan”, mas foram desalojados e ao final desta sexta-feira encontravam-se no exterior, no jardim, onde tencionam passar o fim-de-semana também. Alice Gato disse que os alunos já foram ameaçados de expulsão, mesmo do jardim.

Sempre dizendo que as ocupações são para continuar, a porta-voz deste movimento acrescentou que na Faculdade de Ciências Sociais e Humanas os alunos, que esta sexta-feira fizeram acções de sensibilização dirigidas aos restantes alunos, também querem permanecer todo o fim-de-semana. No Instituto Superior Técnico, o protesto acabou porque os alunos foram forçados a sair, com alguns deles a integrarem acções noutros estabelecimentos de ensino.

Os estudantes reivindicam principalmente o fim dos combustíveis fósseis até 2030 e a demissão do ministro da Economia e do Mar, António Costa Silva, por, dizem, não ter preconceitos em relação a projectos de exploração de gás e de ser, até recentemente, presidente do Conselho de Administração de uma petrolífera.

As ocupações que começaram na segunda-feira e que não têm data para terminar coincidem com a Conferência das Nações Unidas sobre Alterações Climáticas (COP27), que decorre desde domingo em Sharm el-Sheikh, no Egipto, até ao próximo dia 18.

Os alunos do movimento Fim ao Fóssil defendem o fim da exploração de combustíveis fósseis até 2030 e a demissão do ministro da Economia e do Mar, António Costa e Silva. Mas, mais do que tudo, os estudantes têm dito nos protestos que querem mesmo ser ouvidos. Este sábado, está agendada uma marcha contra o fracasso climático em Lisboa.

Os estudantes do movimento “Fim ao Fóssil – Ocupa!” apelam a que todos os estudantes se juntem às ocupações, e que “restantes membros da sociedade as apoiem, e que participem na marcha pelo clima de dia 12 de Novembro, às 14h, no Campo Pequeno, organizada pela coligação “Unir Contra o Fracasso Climático”.

Notícia actualizada com protestos a decorrer noutras escolas de Lisboa.