Biden apresenta compromissos para que os EUA liderem na luta pelo clima

Redução das emissões de metano e mais dinheiro para adaptação às alterações climáticas. Estes são alguns pontos altos do discurso do Presidente norte-americano na COP27, no Egipto.

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Joe Biden discursou esta sexta-feira na Cimeira do Clima das Nações Unidas, em Sharm el-Sheikh REUTERS/Mohamed Abd El Ghany

O Presidente norte-americano, Joe Biden, afirmou uma posição de liderança dos Estados Unidos na luta contra as alterações climáticas com o seu discurso esta sexta-feira na Cimeira do Clima das Nações Unidas, em Sharm el-Sheikh. Apresentou uma série de compromissos que considerou capazes de fazerem acelerar a redução das emissões de gases com efeito de estufa.

“A crise climática tem que ver com a segurança da humanidade, segurança ambiental, segurança nacional, e a própria vida no planeta”, afirmou o Presidente dos EUA, que apresentou como trunfo a legislação aprovada pelo Congresso dos EUA que garante 370 mil milhões de dólares para investimentos em energias renováveis. Esta lei é a grande aposta para reduzir as emissões norte-americanas de gases com efeito de estufa. “O nosso investimento em tecnologias limpas vai desencadear um ciclo de inovação que será disponibilizado ao mundo inteiro”, assegurou.

“O Governo dos EUA é o maior cliente do mundo, todos os anos faz compras no valor de 630 mil milhões de dólares”, explicou Joe Biden. Agora, pretende usar essa força enquanto consumidor de bens e serviços para exigir aos seus principais fornecedores que estabeleçam metas de redução das emissões alinhadas com os objectivos do Acordo de Paris.

Reduzir as emissões de metano em 87% da indústria do petróleo e do gás, comparando com os níveis de 2005, obtendo ao mesmo tempo benefícios económicos, foi um dos compromissos mais sonantes feitos por Joe Biden. “O metano é um gás de estufa 80 vezes mais potente do que o dióxido de carbono e, no entanto, há fugas deste gás em muitas explorações petrolíferas”, disse o Presidente dos EUA, anunciando um maior esforço para regular o sector. O Plano de Acção de Redução das Emissões de Metano foi actualizado e inclui mais de 20 mil milhões de dólares em novos investimentos para reduzir as emissões de metano, disse.

Biden saudou a iniciativa revelada nesta sexta-feira do Programa de Ambiente das Nações Unidas, que apresentou o novo Sistema de Alerta e Resposta ao Metano (MARS, na sigla em inglês), uma base de dados pública que mapeia fugas de metano detectadas a partir do Espaço por satélites, feita com o apoio de 119 países. O Presidente dos EUA recordou também que mais de 130 países assinaram já o Compromisso Global para a Redução do Metano – que agora cobre mais de metade das emissões deste gás e cerca de dois terços da economia global.

“Se conseguirmos acelerar projectos que são determinantes para alterar a situação, conseguiremos cumprir as metas do Acordo de Paris (de limitar o aquecimento global a 1,5 graus acima da temperatura média anterior à Revolução Industrial)”, insistiu Biden. “A ciência é terrivelmente clara, temos de fazer progressos vitais até ao fim desta década”, afirmou.

Acompanhe a COP27 no Azul

A Cimeira do Clima das Nações Unidas é o ponto mais alto da diplomacia em torno das alterações climáticas, onde os países discutem como travar as emissões de gases com efeito de estufa que causam o aquecimento global. Este ano é no Egipto, de 6 a 18 de Novembro. Acompanhe aqui a Cimeira do Clima. 

O discurso do Presidente foi interrompido momentaneamente por gritos, que fizeram Biden hesitar por um momento. Eram de activistas dos EUA a protestar, exibindo faixas a exigir que o Presidente dos EUA deixe de apoiar a extracção de combustíveis fósseis, diz o Guardian. Foram levados para fora do plenário por elementos da segurança.

A guerra não esteve ausente do discurso de Biden em Sharm el-Sheikh. “A guerra da Rússia [contra a Ucrânia] só torna mais urgente a necessidade de o mundo fazer a transição da sua dependência dos combustíveis fósseis”, sustentou o Presidente dos EUA.

Biden recordou que tem uma longa história de preocupação com o clima: “Introduzi a primeira proposta legislativa relacionada com o clima no Senado dos EUA em 1986. Como Presidente dos Estados Unidos, posso dizer com confiança que vamos cumprir os nossos objectivos – reduzir as emissões de gases com efeito de estufa em 50% a 52%, com base nos valores de 2005, até 2030”, prometeu.

“Todos têm de agir, é um dever e uma responsabilidade dos líderes globais. Os países em desenvolvimento devem ser ajudados pelos países mais ricos a fazer a sua transição energética. Se os países mais industrializados podem financiar projectos para explorar carvão nos mais pobres, porque é que não apoiam projectos de energias renováveis?”, interrogou.

E as perdas e danos?

A Administração Biden tem o objectivo de quadruplicar o dinheiro destinado ao apoio da acção climática para atingir 11 mil milhões anuais. Quer duplicar para 100 milhões de dólares o montante prometido para adaptação pelos EUA com o objectivo de canalizar 100 mil milhões anuais para os países mais vulneráveis às alterações climáticas (até agora nunca cumprido). Prometeu ainda acelerar o Plano de Emergência para Adaptação e Resiliência em África (PREPARE, na sigla em inglês).

O objectivo do PREPARE é financiar iniciativas de adaptação às alterações climáticas que beneficiem mais de meio milhão de pessoas nos países em desenvolvimento durante esta década, diz um documento divulgado pela Casa Branca. Estes montantes, no entanto, estão dependentes de aprovação pelo Congresso dos EUA, cuja composição se está a definir por estes dias, após as eleições intercalares de terça-feira.

Biden não pronunciou nunca a expressão “perdas e danos”, o tema que tem atravessado toda esta COP27, mas expressou apoio à iniciativa Global Shield, acordada entre o G7 (as nações mais industrializadas) e o grupo V20 (que junta as nações mais vulneráveis às alterações climáticas).

Sabe-se ainda pouco sobre esta iniciativa, mas, pelo que foi divulgado, seria um esquema semelhante à criação de seguros para as perdas e danos sustentados pelos países em desenvolvimento quando atingidos por fenómenos relacionados com as alterações climáticas, como cheias, ciclones ou secas, por exemplo.

“O futuro está nas nossas mãos”, disse Biden, a terminar o discurso na COP27. “Um planeta preservado, mais justo e próspero para os nossos filhos, é por isso que estamos aqui, é por isso que trabalhamos. Estou confiante de que vamos conseguir fazê-lo.”