Ameaça de fome em Cabo Delgado agora que o PAM está quase sem dinheiro

Agência da ONU precisa de 50,6 milhões de euros ou ficará sem verba em Fevereiro, “na temporada da fome”. Violência tem aumentado nos últimos meses.

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Cerca de 1,15 milhões de pessoas em Cabo Delgado "vivem em ‘crise’ ou ‘emergência’ de fome" Paulo Pimenta

O Programa Alimentar Mundial (PAM) advertiu esta sexta-feira de que poderá ver-se forçado a suspender em Fevereiro de 2023 as suas operações no norte de Moçambique por causa da falta de fundos, o que poderá agudizar a fome na região, onde a violência ligada ao fundamentalismo religioso provocou cerca de um milhão de deslocados desde 2017.

Antonella D’Aprile, directora do PAM em Moçambique, anunciou, citada pela Europa Press, que é preciso tomar uma decisão porque, “a menos que se recebam urgentemente fundos adicionais”, a agência das Nações Unidas deixa de poder responder às necessidades da chamada “temporada da fome”, que deverá acontecer no mês de Fevereiro.

A situação do PAM em Moçambique “é preocupante há algum tempo”, mas agora “está a ficar sem opções” para conseguir manter as suas actividades, disse. E precisa de 51 milhões de dólares (50,6 milhões de euros) para continuar a funcionar.

Segundo a responsável do PAM, Cabo Delgado é a “província com maior insegurança alimentar e a situação “continua a deteriorar-se”.

“Cerca de 1,15 milhões de pessoas na província vivem em ‘crise’ ou ‘emergência’ de fome e os últimos dados apontam para que a situação possa deteriorar-se ainda mais”, disse Antonella D’Aprile que salientou que a violência na província se intensificou nos últimos meses, com “ataques sem precedentes” e em distritos próximos de Pemba, a capital provincial, bem como na província vizinha de Nampula.

Os ataques aumentaram o número de deslocados que são agora de quase um milhão de deslocados internos nos últimos dois anos.

A directora do PAM diz que apesar das dificuldades de financiamento tem continuado a alimentar cerca de um milhão de deslocados, mesmo em zonas antes inacessíveis como Macomia, Muidumbe, Nangade, Palma e Quissanga, embora tivesse que recortar as rações durante os últimos meses.

Antonella D’Aprile acrescentou ainda que “o PAM está também a distribuir suplementos nutricionais para evitar e tratar a desnutrição entre as crianças de menos de cincos anos e mulheres grávidas ou a amamentar”. Bem como a ajudar em actividades de construção entre as comunidades mais vulneráveis, “apoiando 44 mil pessoas na recuperação de terras e de produção em Cabo Delgado”.

As autoridades de Moçambique têm destacado nos últimos meses a melhoria da situação de segurança na região, devido às operações conjuntas das forças ruandesas e da Comunidade de Desenvolvimento da África Austral (SADC), embora reconheçam que a crise humanitária se mantém grave.

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