Marcelo define-se como um Presidente criativo mas totalmente previsível
Em resposta a António Costa, o chefe de Estado afirmou que era necessário “criatividade” para lidar com “três governos diferentes”.
Marcelo Rebelo de Sousa definiu-se esta sexta-feira como um Presidente da República criativo, considerando que isso foi fundamental para a sua eleição, reeleição e convívio com governos diferentes, mas rejeitou a ideia de que é imprevisível.
“Ao fim de sete anos, já me conhecem os portugueses muito bem, sou a pessoa mais previsível do mundo”, defendeu o chefe de Estado, em declarações aos jornalistas, no fim de uma visita ao Bazar Diplomático, no Centro de Congressos de Lisboa.
A comunicação social perguntou ao Presidente da República se concorda que tem "momentos de criatividade", como considerou o primeiro-ministro, António Costa, por causa do modo como se dirigiu à ministra da Coesão Territorial, Ana Abrunhosa, sobre a execução dos fundos europeus.
“Ah, sim. Fica-me a mim mal qualificar-me, mas eu penso que sou criativo, de facto, e que só por ser criativo cheguei a Presidente e só por ser criativo fui reeleito e que é preciso muita criatividade para, no fundo, lidar com três governos diferentes”, respondeu Marcelo Rebelo de Sousa.
O chefe de Estado referiu que “o primeiro era um Governo socialista com apoio parlamentar, o segundo era um Governo socialista com menos apoio parlamentar, e o terceiro é um Governo de maioria absoluta socialista, portanto, são tudo situações diferentes”. “Se o Presidente não é criativo, como é que se molda a situações tão diferentes?”, perguntou.
Depois, confrontado com a ideia de que é imprevisível, Marcelo Rebelo de Sousa contrapôs que é o mais previsível possível e escusou-se a prestar mais declarações à comunicação social. Questionado sobre o tom com que se dirigiu à ministra da Coesão, retorquiu: “Mais nada a dizer”.
No sábado passado, ao discursar durante uma cerimónia na Trofa, no distrito do Porto, o Presidente da República falou directamente para a ministra Ana Abrunhosa, a quem disse que ninguém é obrigado a aceitar funções políticas e quando se aceita “é para o bem e para o mal”, com “escrutínio constante” e com uma proporção de “dois dias felizes por dez dias infelizes”.
“Este é um dia super feliz, mas há dias super infelizes. E verdadeiramente super infeliz para si será o dia em que eu descubra que a taxa de execução dos fundos europeus não é aquela que deve ser. Nesse caso eu não lhe perdoo. Não lhe perdoo. E há milhares de testemunhas daquilo que eu estou a dizer hoje. Eu espero que esse dia não chegue, mas estarei atento para o caso de chegar”, acrescentou o chefe de Estado.
A propósito destas palavras, na segunda-feira, em Sharm el-Sheikh, no Egito, onde participou na 27.ª Conferência das Nações Unidas sobre Alterações Climáticas (COP27), o primeiro-ministro considerou que “todos os portugueses têm apreciado a forma como o Presidente da República tem exercido as suas funções, que tem momentos de maior criatividade”.