Cláudia, socióloga e vendedora de castanhas assadas em Braga: uma tradição familiar

Cláudia Rodrigues assa castanhas no centro de Braga, mas é também requisitada para festas e eventos e marca presença nas feiras dos Santos e de São Martinho.

NEG - 9 DE NOVEMBRO 2022 - ASSADORA CASTANHAS BRAGA
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Cláudia Rodrigues, 34 anos, abraçou este negócio de tradição já depois de ter concluído o curso de Sociologia na Universidade do Minho NELSON GARRIDO
NEG - 9 DE NOVEMBRO 2022 - ASSADORA CASTANHAS BRAGA
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Vendidas a três euros a dúzia (cinco duas dúzias), Cláudia lamenta-se de que este ano as castanhas estão mais caras NELSON GARRIDO

A socióloga Cláudia Rodrigues assa castanhas no centro de Braga, uma tradição agarrada à milenar memória da cidade da qual é hoje uma das guardiãs. “Quentes e boas, castanhinhas quentinhas”, é o pregão que já quase nem precisa de soltar, tão habituada que está a clientela à sua presença. “Os clientes sabem onde estamos, não é preciso chamá-los”, diz a jovem mulher, de 34 anos, que abraçou este negócio de tradição já depois de ter concluído o curso de Sociologia na Universidade do Minho.

Na verdade, o negócio era antes de farturas, pipocas e algodão doce, quando começou a acompanhar o então ainda namorado pelas feiras e romarias. Uma actividade rentável, mas que de repente se viu interrompida por força da pandemia covid-19. “Foi aí que nos lembrámos da minha sogra, que antes das farturas tinha assado castanhas nas ruas de Braga, tal como a mãe dela. Mas quem tinha mantido mesmo o negócio da mãe foi outra irmã, a tia Gusta, que nos ajudou e explicou tudo.”

Recuperada a licença, o negócio prosperou e o nome do filho, com três anos, como designação comercial projecta-o para o futuro: “Castanhas do Martim” é agora uma marca que não só prossegue nas ruas de Braga a actividade iniciada pela bisavó Maria, como também assa castanhas em festas e eventos.

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Para Cláudia, as melhores variedades são a Longal e a Judia NELSON GARRIDO

“Nesta altura, pelo São Martinho, temos até empresas do Porto que nos ligam para lá irmos, querem manter a tradição com os seus funcionários. Mas também vamos a escolas e associações que querem ter castanhas assadas nas suas festas”, elucida Cláudia, dando conta que também marcam presença na feira dos Santos, em Chaves, assim como nas festas de São Martinho, em Penafiel.

Quanto à actividade, Cláudia diz que o único cuidado a ter é com as que têm bicho ou podridão. “Mas como para assar e abrirem melhor têm que ser antes todas golpeadas, as furadas acabam por ser retiradas. Às vezes lá passa uma ou outra, mas por isso pomos sempre mais uma ou duas para o cliente não ficar prejudicado.”

As variedades preferidas são a Longal e a Judia, “com mais paladar, mais doces, e que assam melhor”, que um fornecedor traz de Trás-os-Montes, das zonas de Vinhais e Montalegre. No entanto, as primeiras são sempre do Minho, da zona de Ponte de Lima, “que não são tão boas”. Vendidas a três euros a dúzia (cinco duas dúzias), Cláudia lamenta-se de que este ano estão mais caras, mas não vai aumentar os preços: “As pessoas já se queixam assim, prefiro vender mais do que aumentar o preço e depois não vender.”

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Cláudia Rodrigues fundou o negócio a que deu o nome de Castanhas do Martim, o seu filho de três anos NELSON GARRIDO

E se há dias em que se vende melhor, já na clientela não há padrão. “Há gente de todas as idades, mas também muitos turistas, principalmente os espanhóis, que sempre gostaram de castanhas assadas. Agora também os brasileiros, nota-se que não conhecem, muitos até começam a comer com a casca. O sábado é sempre o melhor dia, o domingo já não é tão bom, mas é sempre melhor que à semana, e a terça é sempre o pior dia. Aos sábados há mais movimento na rua, muitas famílias, as pessoas andam às compras, é sempre o melhor dia”, justifica.

Pelas contas de Cláudia, serão actualmente oito os assadores de castanhas em actividade nas ruas de Braga, todos com licenças concedidas pela câmara municipal e com lugares definidos. “Apenas no centro histórico e já não autorizam a venda de farturas, algodão ou pipocas, só actividades que estejam ligadas à tradição”, explica, louvando também o apoio da câmara no pedido das licenças e os preços simbólicos que são cobrados.

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Castanhas do Martim em Braga NELSON GARRIDO

Outro elogio vai também para a camaradagem e cooperação entre todos. As licenças têm que ser renovadas todos os anos, e há o cuidado de não pedir localizações normalmente já ocupadas por outros.

Mesmo tratando-se de uma actividade sazonal, já que funciona normalmente apenas entre finais de Setembro e meados de Fevereiro, Cláudia sente-se bem como guardiã de uma actividade associada à tradição e um negócio que na família vai já para a quarta geração. “Acho que vamos manter o negócio de assar castanhas, nos outros meses vamos para as festas”, confia a socióloga que assa castanhas no centro de Braga.

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