Presidente da CEP admite “tempo penoso” para a Igreja face ao combate aos abusos

José Ornelas disse que este tem sido um “tempo de purificação, na busca da justiça, através da concreta identificação dessas situações dolorosas, de modo que não se façam generalizações indevidas”.

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José Ornelas durante a reunião com os bispos das dioceses portuguesas no Santuário de Fátima LUSA/Paulo Cunha

O presidente da Conferência Episcopal Portuguesa (CEP) reconheceu esta segunda-feira, em Fátima, que “este tem sido um tempo penoso” para os fiéis católicos, face ao “duro combate” aos crimes de abuso sexual no contexto da Igreja.

José Ornelas, na abertura da Assembleia Plenária da CEP, afirmou, perante os restantes membros do episcopado, que “este tem sido um tempo penoso para todos os fiéis – leigos e particularmente sacerdotes – pelo duro embate com uma realidade”, cuja dimensão e contornos foi decidido “que fosse estudada por pessoas competentes”.

“Mas tem-se revelado também um tempo de purificação, na busca da justiça, através da concreta identificação dessas situações dolorosas, de modo que não se façam generalizações indevidas, nem acusações indiscriminadas e que os responsáveis de tão condenáveis crimes possam ter também um tratamento justo, nas sedes apropriadas”, disse o também bispo de Leiria-Fátima.

José Ornelas sublinhou que “a Comissão Independente para o Estudo de Abusos Sexuais contra as Crianças na Igreja Católica em Portugal, criada por decisão desta Assembleia, está a finalizar o seu trabalho e, em Janeiro do próximo ano, apresentará um relatório conclusivo que permitirá conhecer a verdade de um passado doloroso, antes de mais para as vítimas de tais abusos, que a todos nos fere e envergonha”.

“Quero reafirmar a minha profunda gratidão a todas as vítimas que têm dado, corajosamente, o seu testemunho ao longo dos últimos meses, pela luz que trazem a esta sombria realidade que contradiz a identidade e a missão evangelizadora da Igreja”, continuou o presidente da CEP; que deixou também uma palavra “às vítimas que preferem manter selada no íntimo do coração a sua história”.

“Estamos cada vez mais conscientes da dureza da vossa dor, e gostaríamos de poder colaborar convosco na superação destes injustos e, a todos os títulos, inadmissíveis atentados. A todos quero garantir que a ‘tolerância zero’, nesta matéria, é um firme propósito que queremos ver concretizado, para erradicar este mal na Igreja”, disse José Ornelas.

Segundo o prelado, o relatório da Comissão Independente será um “instrumento fundamental” no caminho “de definição e implementação de estratégias para mitigar a reincidência dos abusos, em complementaridade com os passos já dados pelas Comissões Diocesanas de Protecção de Menores e Adultos Vulneráveis e pela Equipa de Coordenação Nacional destas comissões”.

“A dor deste processo não deve desanimar-nos. Pelo contrário, como tive ocasião de dizer na abertura do Simpósio do Clero no passado mês de Agosto, é ‘um caminho necessário de identificação de males que existiram e continuam presentes, para que possamos assumi-los na sua realidade dolorosa, como processo de conversão e de libertação para todos’”, concluiu José Ornelas.

A Assembleia Plenária da CEP, que começou esta segunda-feira em Fátima termina na quinta-feira e, na agenda de trabalhos estão, além da questão dos abusos sexuais de menores no seio da Igreja, temas orientações para a formação sacerdotal, a preparação da Jornada Mundial da Juventude Lisboa 2023 ou o Sínodo 2021-2024, nomeadamente a participação na chamada “etapa continental”, bem como o orçamento da CEP para 2023 e informações e propostas das diferentes comissões episcopais.