Ana Abrunhosa diz que “não há melindres” com o Presidente da República
Ministra da Coesão garante que partilha a preocupação de Marcelo Rebelo de Sousa sobre a execução dos fundos comunitários.
A ministra da Coesão Territorial, Ana Abrunhosa, disse este domingo que “não há melindres” com o Presidente da República por dizer que não a perdoará se a taxa de execução dos fundos europeus não é aquela que acha que deve ser.
“Partilhamos totalmente da preocupação e da pressão do senhor Presidente da República. O senhor Presidente, por diversas vezes, transmite [a sua opinião] em privado e em público. Desta vez, teve maior visibilidade”, disse Ana Abrunhosa aos jornalistas.
A ministra da Coesão Territorial falava na Guarda, à margem da inauguração dos Passadiços do Mondego, que estão integrados no Parque Natural da Serra da Estrela e no Estrela Geopark Mundial da UNESCO.
“Não há melindres, há uma partilha de preocupações e há uma partilha da ambição de aproveitarmos bem estes fundos [europeus] que nós temos à nossa disposição. E não vale a pena dramatizar, não vale a pena, porque o senhor Presidente faz o seu papel, que é exigir ao Governo que faça trabalho”, disse, quando confrontada com as declarações de Marcelo Rebelo de Sousa.
No sábado, na Trofa, no dia em que foram inaugurados os Paços do Concelho de um município criado há 24 anos, Marcelo começou o discurso dirigindo-se a Ana Abrunhosa a quem, disse, queria dizer “duas coisas”. “E como não tenho tido oportunidade de o dizer digo-lhe hoje. Quando aceitamos funções políticas sabemos que é para o bom e para o mal. Não somos obrigados a aceitar. Sabemos que são difíceis, são árduas, que estão sujeitas a um controlo e a um escrutínio crescente – a democracia é isso – e há dias bons e dias maus, dias felizes e dias infelizes. A proporção é dois dias felizes por 10 dias infelizes”, referiu.
E prosseguiu, ainda dirigido à ministra, com um aviso sobre a execução dos fundos europeus. “Este é um dia super feliz, mas há dias super infelizes. E verdadeiramente super infeliz para si será o dia em que eu descubra que a taxa de execução dos fundos europeus não é aquela que eu acho que deve ser. Nesse caso não lhe perdoo. Espero que esse dia não chegue, mas estarei atento para o caso de chegar”, declarou.
Hoje, a ministra explicou aos jornalistas que a intervenção do PR “foi num ambiente muito informal” e que a sua preocupação é “perfeitamente legítima”.
“Estamos num momento em que temos recursos financeiros à nossa disposição, muitos recursos financeiros, mas todos também sabemos - e não é só no nosso país - que o sector da construção é um sector onde os preços aumentam todas as semanas, muitas vezes os concursos ficam desertos, portanto, a execução dos projectos demora mais do que aquilo que desejamos”, justificou.
Acrescentou que a preocupação do chefe de Estado sobre os fundos europeus “é legítima” e a forma informal como se dirigiu à ministra “é porque tem amizade”. “Eu já ouvi muitas vezes o senhor Presidente da República a preocupar-se com a execução dos fundos”, disse.
Ana Abrunhosa explicou ainda que as declarações de Marcelo Rebelo de Sousa foram feitas após a sua intervenção onde disse que o projecto inaugurado na Trofa tinha usado fundos europeus, tinha feito uma homenagem aos autarcas e “referido que a vida pública é uma vida de grande entrega, de grandes dificuldades e exposição”. “Portanto, nessa sequência, é normal que o senhor Presidente da República tenha feito a intervenção que fez”, rematou.
A ministra da Coesão Territorial referiu também que o Governo “está atento” aos fundos comunitários e “está sempre preocupado”. Apontou, no entanto, que a responsabilidade da execução dos fundos comunitários “é a diferentes níveis”.