Antecipando a saída, Jerónimo pediu desculpa aos camaradas em entrevista

Há cerca de duas semanas, o líder cessante do PCP disse à Lusa que sairia de cena quando deixasse de conseguir fazer “2.000 quilómetros num fim-de-semana”. A saúde determinou a sua decisão.

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Jerónimo de Sousa preparava a sua saída de cena Daniel Rocha

O secretário-geral do PCP cessante, Jerónimo de Sousa, afirmou há 15 dias que não iria esperar por qualquer reparo crítico relativamente à idade para deixar o cargo, numa entrevista à Lusa em que deixou implícita a sua saída.

“Isto é quase um desabafo pessoal, os meus camaradas perdoar-me-ão, mas tive sempre esta ideia: ninguém é insubstituível”, vincou um Jerónimo de Sousa emocionado, numa entrevista à agência Lusa a propósito da conferência que irá este mês reenquadrar os objectivos do partido para o futuro.

Com 75 anos e quase 18 como secretário-geral comunista, Jerónimo de Sousa escusou-se na entrevista a indicar uma data concreta para a substituição, mas avisou que “a lei da vida não perdoa a ninguém”. No entanto, a marcação de uma rara conferência nacional do PCP para o próximo fim-de-semana deixava perceber que isso podia, então, acontecer.

Antes de precisar que “o factor determinante” será a avaliação das “condições físicas e anímicas para continuar a fazer 2.000 quilómetros num fim-de-semana”, o dirigente comunista garantiu que “a direcção do partido olhará, acompanhará, verificará” a passagem do testemunho.

“Eu, no caso concreto, tenho a ideia de que a vida tem um desfecho e que não deveria, enfim, esperar por qualquer reparo crítico em relação à idade”, admitiu, aproveitando para esclarecer logo de seguida: “aqui o factor fundamental é de facto a saúde”.

“A saúde é um elemento central, por muitos planos, programas, ideais, sonhos, tudo isso que a vida comporta, há uma coisa que é implacável, que é a lei da vida”, afirmou, assegurando que daria a sua contribuição quando o PCP considerasse “chegado o momento de uma substituição, de forma tranquila, mantendo a coesão do partido”.

Jerónimo prometeu continuar a desenvolver o seu trabalho, inclusivamente o de participar na escolha do seu sucessor. Daí “ser eu também a decidir e a propor essas possíveis alterações do secretário-geral. Podíamos estar a falar da Comissão Política, do Secretariado, do próprio Comité Central”, realçou.

“Vou continuar a trabalhar, a dar o meu melhor, mas qualquer decisão tem a minha participação”, sublinhou, advertindo logo a seguir: “No meu partido não existem militantes de diversas categorias, existem militantes com diversas responsabilidades”.

E a responsabilidade é “muito exigente”, pelo que “neste momento o factor determinante está a ser de facto as condições físicas e anímicas para continuar a fazer 2.000 quilómetros num fim de semana”, reiterou Jerónimo de Sousa.