Trienal de Lisboa: Terra a mais e arquitectura a menos

As exposições desiludem pelo supervácuo dos lugares comuns que já vamos reconhecendo como uma tipologia expositiva de “facção”.

Quem teve oportunidade de visitar a 15.ª edição da Documenta em Kassel, aquela que é unanimemente considerada a mais importante exposição internacional de arte, ficará perplexo com a proximidade dos temas e das abordagens com a sexta Trienal de Arquitectura de Lisboa. Com a curadoria atribuída pela primeira vez na sua história a um colectivo, neste caso os indonésios Ruangrupa, que por sua vez a diluíram numa ecléctica mélange de outros colectivos, o cocktail de temas da Documenta 15, tal como na nossa Trienal, era — com diferentes níveis de activismo e protesto — o Antropoceno e as alterações climáticas, o feminismo, LGBT+ e igualdade de género, crises e conflitos regionais, as migrações, os 99%, o degrowth e o eco-socialismo, o populismo e o crescimento da extrema-direita, e, claro está, o neoliberalismo e capitalismo. Outra característica comum entre eventos parece ter sido a vontade de expandir o campo da arte, e no caso vertente o campo da arquitectura, para fora das respectivas disciplinas, a tal ponto que, não fora denunciar-se pelo grafismo pristino que sempre assiste os arquitectos nas montagens das suas exposições, vis-à-vis o estilo mais trashy dos artistas, teríamos dificuldade em perceber qual o evento de arte e qual o de arquitectura. Paralelo e consonante parece ter sido o desejo do desaparecimento (morte?) do autor, não no sentido barthesiano, mas literalmente na vontade de não dar palco a figuras individuais.

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