Mísseis russos deixam ucranianos sem água e energia

Ataques a infra-estruturas civis atingiram 18 alvos por toda a Ucrânia, principalmente centrais energéticas e barragens.

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Habitantes de Kiev fazem fila para a água após mais um ataque russo Reuters/GLEB GARANICH

Moscovo não dá tréguas na sua estratégia de ataques a infra-estruturas civis da Ucrânia e, esta segunda-feira, a capital, Kiev, e várias regiões do país foram novamente alvo dos mísseis russos, deixando muitos ucranianos sem água e energia. O primeiro-ministro da Ucrânia, Denys Shmyhal, informou que 18 alvos, principalmente centrais energéticas e barragens, foram atingidos em ataques com mísseis e drones em dez regiões do país.

O presidente da câmara de Kiev, Vitali Klitschko, adiantou que os ataques deixaram 80 por cento da capital sem abastecimento de água e que os engenheiros estavam a trabalhar para restaurar a electricidade numa central danificada pelo bombardeamento e que fornece energia para mais de 300 mil apartamentos na capital.

“Como milhões de ucranianos, o pessoal da embaixada está mais uma vez abrigado enquanto a Rússia continua os seus ataques insensíveis e bárbaros contra o povo da Ucrânia num esforço para deixar o país frio e às escuras à medida que nos aproximamos do Inverno”, escreveu a embaixadora dos EUA em Kiev, Bridget Brink, no Twitter.

Os mísseis russos caíram também na região de Kharkiv, no Nordeste, nas regiões de Cherkasy, Poltava e Dnipropetrovsk, no centro do país, e em Zaporijjia, a sul.

Os ataques foram condenados pelo Alto Representante da União Europeia para os Negócios Estrangeiros, Josep Borrell, classificando o bombardeamento de infra-estruturas civis como mais uma “violação do direito internacional humanitário”.

“É uma tentativa brutal da Rússia de destruir instalações críticas antes do Inverno”, escreveu o Twitter o também vice-presidente da Comissão Europeia.

Os ataques desta segunda-feira, ao 250.ª dia de guerra, ocorreram após os ataques ucranianos, no fim-de-semana a alvos navais russos na Crimeia anexada, onde a Rússia mantém há muito tempo a sua frota do mar Negro, em Sebastopol. Vários navios russos ficaram danificados, mas a Ucrânia não reivindicou a responsabilidade.

Moscovo acusou a Ucrânia de ter atacado os navios russos com recurso a drones e o ministro da Defesa, Serguei Shoigu, sugeriu mesmo que o ataque foi lançado de um navio civil, usado para a exportação de bens alimentares. Na sequência do bombardeamento, a Rússia decidiu suspender a participação nos acordos para a exportação de cereais.

As Nações Unidas refutaram as acusações russas e garantiram que nenhum navio de carga navegava no corredor usado para a exportação de cereais no mar Negro. “Não estava nenhum navio no corredor na noite de 29 de Outubro, quando ocorreram os ataques relatados, e nenhum comunicou qualquer incidente durante o fim-de-semana”, disse o subsecretário-geral da ONU para os assuntos humanitários, Martin Griffiths, perante o conselho de segurança.

Os EUA acusaram a Rússia de “extorsão colectiva”, com o porta-voz do Departamento de Estado, Ned Price, a afirmar que a “suspensão do acordo por Moscovo representaria uma punição colectiva para o resto do mundo, mas particularmente para países de baixos e médios rendimentos que precisam desesperadamente desses cereais”.

“Parece punição colectiva ou extorsão colectiva. Este não é um assunto que diz respeito apenas a dois países. É um imperativo urgente”, acrescentou Price.

Apesar de Moscovo ter suspendido a sua participação no acordo, vários navios de transporte de cereais zarparam esta segunda-feira dos portos ucranianos no mar Negro.

O presidente ucraniano, Volodymyr Zelensky, garantiu que Kiev continuará a implementar o programa, intermediado pelas Nações Unidas e pela Turquia. “Compreendemos o que estamos a oferecer ao mundo. Oferecemos estabilidade no mercado de produção de alimentos”, disse Zelensky durante uma conferência de imprensa.

Do lado russo, a saída dos navios foi considerada como “inaceitável”, com o Ministério da Defesa a voltar a acusar a Ucrânia de utilizar os transportes para atacar as suas instalações. “A circulação de navios no corredor de segurança é inaceitável, uma vez que a liderança ucraniana e as Forças Armadas da Ucrânia o utilizam para levar a cabo operações militares contra a Federação Russa”, acusou, em comunicado.

"Nas circunstâncias actuais, não é possível garantir a segurança nesta rota, até que o lado ucraniano assuma o compromisso de não a utilizar para fins militares”, acrescentou o Kremlin, salientando que a Rússia não se retirou do acordo, apenas o suspendeu.

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