Galinhas apinhadas e a debicar cadáveres: fornecedor do Lidl acusado de maus tratos
Associação espanhola infiltrou-se em armazém alemão e acusa fornecedor do Lidl de maus tratos. Lidl Portugal diz não ter “informação sobre a origem das imagens” — que podem ser consideradas chocantes.
Associações de defesa animal dizem que as imagens foram captadas na fábrica de produção de um fornecedor do Lidl, na Alemanha, durante o Verão deste ano e mostram pintainhos deitados de costas, sem se conseguirem levantar ou com dificuldades em caminhar devido ao crescimento desproporcional dos músculos dos peitos e das coxas. “Como resultado, os seus ossos e órgãos não conseguem suportar o próprio peso”, lê-se no site da Humane League UK, onde foi partilhado o vídeo que denuncia as más práticas de produção de animais.
A associação britânica de direitos dos animais divulgou as imagens que mostram um armazém sobrepovoado, “completamente cheio de galinhas”. “Em circunstâncias normais, as galinhas passam metade do dia a circular em pequenos grupos à procura de comida. Apinhadas às centenas, como aqui se vê, sofrem de stress permanente e de tédio agonizante.” É também possível ver as “condições sanitárias chocantes, incluindo galinhas a debicarem o cadáver de outras e um trabalhador a urinar no galinheiro”, bem como animais a serem mortos pelos trabalhadores que, ao recolherem os cadáveres, partem o pescoço dos que parecerem debilitados.
Em comunicado enviado ao P3, a Humane League UK explica que o vídeo resulta de uma investigação levada a cabo pela organização não-governamental espanhola Equalia, que se infiltrou no armazém alemão. E outras organizações, como a Human League UK, ou, em Portugal, a associação Abrir de Asas, estão a apelar ao Lidl para subscrever o Better Chicken Commitment (BCC), um conjunto de directrizes e boas práticas para os produtores de animais.
O BCC propõe a “utilização de técnicas de crescimento mais lentas, mais espaço, luz natural, métodos de abate menos dolorosos e auditorias externas”. Nestlé, Marks&Spencer e KFC foram algumas das empresas que se comprometeram a adoptar estas medidas até 2026.
Claire Williams, directora de campanha da Humane League UK, citada no mesmo comunicado, refere que “esta investigação descobriu situações horrendas de maus tratos e violência”. “A maioria das galinhas neste armazém está a sofrer não por causa de quem lá trabalha, mas por causa do crescimento. A confiança do Lidl nos ‘frankenchickens’ [aves geneticamente modificadas para crescer 400 vezes mais rápido do que o normal] é confiança na crueldade”, atira.
O comunicado aponta que este crescimento rápido — desde o nascimento até ao abate passam apenas 35 dias —, que provoca perda de mobilidade, pode levar as galinhas a morrerem de fome ou de desidratação.
O Lidl França assinou o BCC, adianta a Humane League UK, mas, em resposta ao P3, o Lidl Portugal mostrou não ter intenções de fazer o mesmo: “Acompanhamos de perto o BCC e apoiamos o objectivo da iniciativa em melhorar o bem-estar animal na avicultura. No entanto, é importante que a complexidade do tema seja tida em conta ao longo de toda a cadeia — dos produtores aos consumidores”, escreveu a empresa. “Em conversações com representantes da iniciativa, tornou-se claro para nós que os critérios globalmente padronizados da iniciativa não são suficientemente compatíveis com as condições estruturais de enquadramento em Portugal”, continuou.
O Lidl Portugal condenou “veementemente os abusos demonstrados [no vídeo], posicionando-se claramente contra a crueldade para com os animais”. “Até ao momento, não temos informação sobre a origem das imagens, contudo, as circunstâncias reveladas são inaceitáveis”, garantiu. Acrescentou ainda que os fornecedores de frango da empresa “possuem certificação Welfair, que assegura ao consumidor que os animais viveram e foram abatidos em condições eticamente responsáveis de bem-estar, de acordo com os protocolos estabelecidos pelos projectos europeus Welfare Quality e AWIN (Animal Welfare Indicators) e requisitos legais aplicáveis”.