Está de volta o árbitro afastado por gozar com uma pessoa com deficiência

Robert Madley era gozado por ser um árbitro com excesso de peso e respondeu a isso gozando, em privado (pensava ele), com uma pessoa com deficiência. Acabou despedido, mas está de volta.

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Robert Madley Reuters/IAN WALTON

A sabedoria popular diz que as desculpas não se pedem, evitam-se. Mas também aprova quem sabe dar segundas oportunidades a quem erra. Bobby Madley começou por sentir os efeitos da primeira premissa, mas está, agora, a viver os da segunda.

Falamos de um árbitro inglês que foi despedido do seu emprego de sonho, em 2018, por ter feito uma piada de humor negro que poderia ofender pessoas com deficiência.

Neste sábado, o futebol inglês assistiu ao perdão a este juiz de 37 anos, que voltou a arbitrar na Liga inglesa quatro anos depois.

E o que se passou com Madley, apesar das diferenças de contexto, não é muito diferente do que se passa actualmente com vários humoristas nacionais e internacionais que enfrentam duas correntes de pensamento sobre o humor negro.

Há quem defenda que uma piada deve ser isso mesmo – uma piada – e que tudo pode ser matéria de humor. Depois, há quem argumente que a liberdade de expressão não pode agrupar a troça e o humor no sempre volátil conceito de “temas sensíveis”.

Apesar de não ser humorista, Madley pôde juntar-se a muitos que têm sentido a política de “cancelamento”.

Piada privada

A história não é difícil de contar. Com 32 anos e quase 100 jogos na Liga inglesa, Madley estava, em 2018, a ser criticado por um alegado excesso de peso que, segundo alguns especialistas de arbitragem, influía negativamente na competência do árbitro.

Houve até um título de jornal que falava de “blobby Bobby [Bobby gordinho]” e piadas sobre uma corrida de pais na escola da filha de Madley, que o árbitro poderia ter hipótese de ganhar.

“Esse artigo do “blobby Bobby” pode ter parecido engraçado para alguns, mas acreditem: ser gozado por ser gordo num jornal nacional não é uma boa sensação”, escreveu Madley, em 2019, no blogue Therefereesword.

E explicou o que fez depois. “Eu estava sentado no meu carro, com o telefone na mão, e uma pessoa com deficiência a andar passou à minha frente. A parte seguinte envergonha-me. Fiz um vídeo dessa pessoa no Snapchat e escrevi ‘neste ano tenho hipótese de ganhar a corrida dos pais’. Fora do contexto, aceito que isto seja vergonhoso. Aceito isso. No entanto, a minha intenção era que a piada fosse dirigida a mim próprio”, detalhou.

E crê que foi, depois, injustiçado. “Se eu tivesse colocado isto no Snapchat, então aceitaria o despedimento. Mas não o fiz. Enviei-o como um texto privado a alguém em quem confiava. Alguém que compreendia o contexto dos comentários dos dias desportivos anteriores e estava ciente da vergonha que eu tinha recebido pela questão do excesso de peso”.

Madley diz que lamenta ter enviado o vídeo, que “foi apenas uma piada de humor negro” e que “não era para envergonhar ninguém nem ser visto por ninguém que não fosse a pessoa a quem o vídeo foi enviado”.

Seja como for, Madley acabou por ser “cancelado” pela Liga inglesa.

Um retiro escandinavo

Arrancou, depois, para a Noruega, país da mulher, num período que diz ter sido “uma tortura mental” para si e para a sua família. “Não conseguia dormir e ainda hoje sofro mentalmente”, acrescenta.

Mas foi lá que reencontrou a paixão por arbitrar, ao fazê-lo nas divisões inferiores do futebol norueguês. E acabou por aceitar regressar ao futebol britânico, para escalões inferiores.

Começou a arbitrar na terceira e quarta divisões, depois recebeu alguns jogos no Championship já nesta temporada e está, agora, de regresso à Liga inglesa.

Neste sábado, dirigiu o empate a um golo entre Brentford e Wolverhampton. Exibiu seis cartões amarelos (Nélson Semedo, Podence e Rúben Neves foram três deles) e um cartão vermelho a Diego Costa aos 90+7’, por conduta violenta.

Noutros campos não houve cenários tão incomuns como o regresso de árbitros “cancelados”, mas houve motivos de interesse.

O Chelsea foi goleado pelo Brighton (4-1) numa partida em que marcou dois autogolos (cortesia de Chalobah e Loftus-Cheek) e o Manchester City mostrou que sobrevive sem Erling Haaland.

Sem o goleador norueguês não houve fartura de golos, mas houve golo de De Bruyne suficiente para o Man. City bater o Leicester por 1-0.

Nota ainda para o Tottenham, que também viveu uma tarde incomum – teve de virar um 0-2, vencendo o Bournemouth por 3-2 com um golo já aos 90+2’.

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