Uso de armas nucleares contra a Ucrânia está fora das opções, assegura Putin

“Não vemos necessidade disso”, tranquilizou o Presidente russo. Putin diz-se receptivo a negociações, instando os Estados Unidos a convencer a Ucrânia a sentar-se à mesa.

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Vladimir Putin falou publicamente esta quinta-feira Reuters/SPUTNIK

O Presidente russo garantiu, esta quinta-feira, que a Rússia não está a equacionar o uso de armas nucleares contra a Ucrânia, instando os Estados Unidos a convencerem Kiev a sentar-se à mesa das negociações.

“Não vemos necessidade [no uso de armas nucleares]. Não faz sentido, quer política quer militarmente”, afiançou Vladimir Putin, acrescentando que a política nuclear do país apenas permite o uso deste tipo de armamento em situações de defesa. Ainda neste tema, Putin reforçou a suspeita de que a Ucrânia está a planear usar uma “bomba suja”, sem apresentar provas factuais que comprovem essa acusação.

Ao contrário do que tinha acontecido há já quase meio ano, no discurso do Dia da Vitória em Moscovo, Vladimir Putin não fugiu à guerra na Ucrânia. Durante mais de quatro horas, discursou, debateu e respondeu às perguntas do público que marcou presença na cerimónia de encerramento do encontro do Clube de Discussão de Valdai, grupo com ligações ao Kremlin.

Grande parte do discurso de Putin serviu para atacar os países ocidentais: na opinião de Putin, as nações que têm mostrado apoio à Ucrânia são as grandes responsáveis pela escalada no conflito. “O Ocidente deu vários passos nos últimos meses em direcção a uma escalada [do conflito]. Estão a alimentar a guerra na Ucrânia, organizar provocações em Taiwan e a desestabilizar o mercado alimentar e de energia”, acusou o responsável, alegando que o Ocidente quer incutir à força os seus “valores” e “princípios”.

Vladimir Putin deixou também críticas à NATO, acusando-a de ter tentado – sem sucesso – instrumentalizar a Rússia para servir os interesses da aliança.

“Tínhamos uma mensagem para a NATO: ‘Vamos parar de ser inimigos e construir um diálogo, confiança e, por conseguinte, a paz.’ Fomos absolutamente sinceros nisso. Mas o que é que recebemos em troca? Resumidamente, pressão permanente e zonas de conflito nas nossas fronteiras. Mas qual era o objectivo desta pressão? Era um treino? O objectivo era desestabilizar, tornar a Rússia mais vulnerável e instrumentalizá-la para cumprir os objectivos [da NATO].”

Resolução dependente dos EUA

Terminados os ataques do discurso, Putin sentou-se no lugar de honra da cerimónia e respondeu a perguntas dos presentes. Sobre uma eventual resolução da questão ucraniana, o Presidente russo afiança que o bloqueio está em Kiev.

“Não é algo que esteja dependente de nós, estamos prontos para negociações. Mas os líderes em Kiev decidiram não continuar as negociações com a Rússia”, começou por dizer. “É muito fácil resolver este problema se Washington der sinal a Kiev para mudar de posição e resolver o problema pacificamente”, finalizou, reforçando as declarações de Dmitry Peskov, porta-voz do Kremlin, ao início do dia.​

Guerra benéfica para o país

Fazendo uma análise geral sobre o conflito, Vladimir Putin considera que a Rússia conseguiu quebrar uma dependência face à União Europeia e Estados Unidos. Por esse mesmo motivo, considera que a guerra na Ucrânia será benéfica a longo prazo.

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Putin discursa anualmente no encontro do Clube de Discussão de Valdai Reuters

“Há perdas económicas, mas há aquisições enormes. No final de contas, [a guerra] vai beneficiar a Rússia e o seu futuro. Vai reforçar a nossa soberania em todos os domínios e, em particular, no campo económico. Ao pensar que há algum tempo nos estávamos a tornar um tipo de colónia, porque não podíamos fazer nada sem os nossos parceiros ocidentais, pensávamos que íamos ser privados dos mercados por não termos a tecnologia, que eles podiam simplesmente estalar os dedos e a Rússia entrava em colapso. Mas não aconteceu e as bases da nossa economia acabaram por ser mais fortes do que nós tínhamos previsto.”

Vladimir Putin alega que as empresas que abandonaram a Rússia desde o início da invasão prometem que a saída não é definitiva, mostrando-se optimista quanto ao futuro. “Temos conseguido substituir esses negócios. Essas empresas sussurram que a saída não é definitiva, que existe a intenção de regressar em breve. Percebemos esse sentimento. Dissemos sempre [no passado] que somos um grande país, mas agora percebemos que conseguimos. Eles estão a tirar-nos o acesso à tecnologia, mas não é nada de novo. Já o faziam no passado. Claro que a situação é mais difícil, mas conseguimos [sobreviver].”