Lucros do Santander até Setembro mais do que duplicam para 385 milhões

Num período em que já não teve encargos extraordinários associados ao processo de reestruturação, que levou à saída de mais de mil trabalhadores, o Santander mais do que duplicou os lucros.

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Pedro Castro Almeida, presidente executivo do Santander em Portugal LUSA/TIAGO PETINGA

O Santander Portugal reportou resultados líquidos superiores a 385 milhões de euros no conjunto dos primeiros nove meses do ano, montante que representa mais do dobro dos lucros que tinham sido alcançados em igual período do ano passado e que já superam mesmo o resultado registado no total do ano de 2021. A justificar esta evolução está o custo extraordinário que o Santander suportou no ano passado para executar o plano de reestruturação, que levou à saída de mais de mil trabalhadores, e que não se repete este ano.

“No final de Setembro de 2022, [o Santander] obteve um resultado líquido de 385,1 milhões de euros, que compara com 172,2 milhões de euros obtidos no mesmo período de 2021, valor que incorpora um encargo extraordinário, no valor de 164,5 milhões de euros (líquido de impostos), registado no primeiro trimestre de 2021, para fazer face ao plano de transformação em curso, com a optimização da rede de agências e investimentos em processos e tecnologia”, pode ler-se no comunicado enviado pelo banco às redacções, nesta quarta-feira.

De resto, o Santander registou melhorias na generalidade dos indicadores, mas não tão expressivas como o aumento dos lucros. No final de Setembro, os recursos de clientes ascendiam a 46,7 mil milhões de euros, um crescimento de 1,2% face ao ano passado, explicado, sobretudo, pelo aumento de 3,6% dos depósitos, que totalizaram 39,3 mil milhões no período em análise, enquanto os recursos fora de balanço (onde se incluem fundos de investimento ou seguros) registaram uma quebra superior a 10%, resultado do “contexto de mercado mais volátil e de maior incerteza”.

Já a carteira de crédito da instituição financeira totalizou 43,5 mil milhões, valor que representa uma ligeira quebra em relação ao ano passado, de 0,1%. Mesmo assim, o crédito à habitação, que representa a maioria da carteira de empréstimos, aumentou 6,7% e fixou-se em 23.061 milhões de euros, enquanto o crédito ao consumo cresceu 8,9% e ascendeu a 1,8 mil milhões.

Assim, é a carteira de crédito a empresas, que diminuiu 4% e totalizou 15,6 mil milhões, a explicar a redução da carteira de crédito global. O Santander atribui esta redução à “elevada liquidez acumulada pelas empresas”, bem como a “um conjunto de vencimentos programados ao nível de empresas de maior dimensão”.

Ainda do lado do crédito, o nível de malparado (medido pelo Santander pelo rácio de non-performing exposures, ou exposição não produtivas) reduziu-se 0,3 pontos percentuais e fixou-se em 2% no final de Setembro.

Comissões disparam, custos caem

Já do ponto de vista operacional, o produto bancário totalizou 933,6 milhões de euros, uma redução homóloga de 9% que é explicada “pela evolução dos resultados em operações financeiras, que diminuíram 80% face ao período homólogo, quando tinham atingido um valor muito elevado, fruto da gestão da carteira de títulos”.

Por outro lado, as receitas comerciais recorrentes aumentaram 3,7%, enquanto os custos operacionais se reduziram mais de 13%, para 364,5 milhões de euros, fruto da redução de custos com pessoal em mais de 16% e dos gastos gerais em 10,8%. Ao todo, o Santander conta agora com 4638 trabalhadores em Portugal, menos 759 do que no final de Setembro do ano passado, e com 340 agências, menos dez do que há um ano.

O Santander registou, ainda, um aumento de 13,6% nas receitas obtidas por via das comissões, que totalizaram 358,6 milhões de euros no final de Setembro. Esta evolução é justificada com a “distribuição de seguros autónomos de risco” e com a “melhoria das transacções pelos clientes e a evolução da concessão de crédito, em particular hipotecário, embora com volumes mais baixos do que os observados no primeiro semestre do ano”.

Em sentido contrário, a margem financeira diminuiu 1,9% em relação ao ano passado, reflexo do “contexto concorrencial competitivo, que continuou a pressionar em baixa os spreads de crédito”, e da “alteração da composição relativa da carteira de crédito, fruto do maior dinamismo do crédito hipotecário”. Este é um indicador que deverá, em breve, registar melhorias, tendo em conta a subida das taxas de juro. Contudo, ressalva o banco, esse fenómeno “é ainda recente para produzir um impacto material nesta rubrica das receitas”.

Dividendos penalizam capital

No período em análise, o Santander dá também conta de uma forte redução dos rácios de capitalização, um movimento explicado pela retoma da distribuição de dividendos à casa-mãe.

Assim, no final de Setembro, o rácio de common equity tier 1 ascendia a 17,3%, uma redução de 6,5 pontos percentuais face a Setembro do ano passado.

Esta diminuição está “associada à decisão do conselho de administração do Santander em Portugal de retomar a distribuição de dividendos no ano de 2022, uma vez levantada a recomendação do Banco Central Europeu, de 27 de Março de 2020, relativa à remuneração dos accionistas”.

O banco ressalva, ainda assim, que “continua a dispor de níveis de capitalização bastante elevados, claramente acima dos requisitos mínimos exigidos pelo BCE”.

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