Dados pela sustentabilidade e contra o greenwashing
De acordo com as ONG Global Footprint Network e WWF, no final do passado julho, a Humanidade terá consumido tudo o que o planeta é capaz de produzir de forma sustentável, num ano, ou seja, estamos a viver a crédito até ao início de 2023. Como esta tendência se verifica há décadas sucessivas e o empréstimo surge cada vez mais cedo, as alterações climáticas e os fenómenos naturais que delas decorrem estão também mais evidentes e são uma forma da natureza nos chamar à atenção para uma inevitabilidade: temos de devolver o que pedimos emprestado.
Se queremos inverter esta tendência e dar um rumo positivo à atividade humana, temos de agir para não comprometermos o futuro coletivo. Felizmente, esta consciência já não se resume apenas às novas gerações e tem estado cada vez mais presente no topo das preocupações dos decisores empresariais, como o demonstra um relatório recente da Gartner [2022 CEO Survey: Sustainability and ESG Become Enduring Change], que coloca a sustentabilidade como uma das prioridades dos CEO e Conselhos de Administração e no Top3 das preocupações dos investidores.
Enquanto catalisadores económicos e agentes da transformação, as empresas têm de liderar a mudança. De acordo com o relatório “From Traditional Companies to Sustainable Companies (estudo da NTT DATA publicado em julho de 2022), o caminho para o equilíbrio social, económico e ambiental reside no poder da gestão de dados em cinco áreas de ação: economia circular, combate às alterações climáticas, proteção da biodiversidade, agricultura e água.
Temos, portanto, um perímetro de ação definido, no qual as organizações podem concentrar os seus esforços para reduzir a pegada ambiental e melhorar o impacto da sua atividade Para isso, os dados têm de assumir o protagonismo da transição, tornando-se fundamental a implementação de mecanismos de medição, monitorização e rastreabilidade de dados, e a sua sistematização numa linguagem universal e transparente.
Existem já diferentes sistemas de comunicação da sustentabilidade e que têm aceitação global, como por exemplo o Global Reporting Initiative (GRI), e que permitem a comparação de práticas sustentáveis entre companhias, setores de atividade e nações.
Para as organizações, o desafio passa por criar modelos lógicos de informação, desde a fonte até ao indicador, mas também sistemas integrados e ágeis, que dotem as equipas com cultura de dados da informação necessária para tomarem as melhores decisões. Um processo que pode ser incrementado pela introdução de tecnologias de automação e inteligência artificial, que aceleram o processamento desses dados, o desenvolvimento de análises preditivas e que até indicam rumos possíveis de ação.
A conjugação de todos estes esforços é exigente, mas contribuirá não só para melhorar a boa governação e transparência das organizações, como também gerar mais informação operacional e contabilística, tornando mais eficiente a gestão.
Demonstrar práticas sustentáveis através destes indicadores mensuráveis, que se baseiam em dados reais, que se alimentam automaticamente de fontes internas e externas, é o primeiro passo para contrariar discursos fraudulentos de greenwashing, que apenas contribuem para o descrédito do esforço levado a cabo pelas organizações nesta mudança de paradigma.
A autora escreve segundo o novo acordo ortográfico