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Rui Pinto garante não ser o autor do blogue “Mercado de Benfica”

“O autor do blogue trabalhava no projecto do Football Leaks e conseguiu um mapa do tesouro junto de um colaborador externo do Benfica que não quis aceder ao sistema informático e ser ele a tirar os documentos: um guia de como aceder e aquilo a que aceder”, declarou o pirata informático.

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Blogue revelou muita informação confidencial sobre o clube dos encarnados Reuters/RAFAEL MARCHANTE

O pirata informático Rui Pinto garantiu esta segunda-feira à tarde em tribunal não ser ele o autor do blogue “Mercado de Benfica”, que revelou muita informação confidencial sobre o clube dos encarnados, e não só, obtida após um ataque informático ao escritório de advogados PLMJ.

“O autor do blogue é alguém que conheço bem. Trabalhava no projecto do Football Leaks”, declarou o hacker. “E no final de 2016 conseguiu um mapa do tesouro junto de um colaborador externo do Benfica que não quis aceder ao sistema informático e ser ele a tirar os documentos: um guia de como aceder e aquilo a que aceder.”

Segundo esta versão dos factos, Rui Pinto opôs-se à divulgação de todo este material num blogue à parte, porque queria usá-lo no Football Leaks e passar os documentos roubados ao escritório ao Consórcio Internacional de Jornalistas de Investigação. “Mas por teimosia ou estupidez ele criou o Mercado de Benfica”, onde foi publicado o conteúdo integral de caixas de correio como a do advogado dos encarnados João Medeiros, incluindo informações da sua vida privada. E não só: “Foi publicada uma barbaridade de caixas do correio do Benfica. Bem tentei convencê-lo a não o fazer”.

O hacker garante que quando isso sucedeu nem sequer estava em Budapeste, onde residia na altura: tinha ido a um festival de música electrónica em Praga e o colega “tomou as rédeas da situação.”

“A violação integral das caixas de correio electrónicas era completamente contra o espírito do Football Leaks”, garantiu o fundador desta plataforma destinada a expor os negócios escuros do mundo do futebol. “Foi uma canalhice.” Questionado pelos juízes sobre a coincidência de o “Mercado de Benfica” ter esmorecido depois da sua detenção em Budapeste, Rui Pinto respondeu que a explicação é simples: “Assustaram-se.”

“Se essa pessoa que diz ser o criador do site continuasse a publicar depois da sua detenção tê-lo-ia ilibado dessa responsabilidade”, contrapuseram os magistrados. “Mas quem estava preso era eu”, retorquiu o criador do Football Leaks. “Neste projecto fui sempre eu quem mais se arriscou.”

Da parte da manhã o pirata informático tinha acusado o inspector-chefe da Polícia Judiciária Rogério Bravo de ter feito um negócio de troca de informações com um dos responsáveis do fundo de investimento Doyen, ligado ao mundo do futebol, que pôs a sua vida em risco.

A proximidade do inspector-chefe em causa com Nélio Lucas, da Doyen, já foi investigada duas vezes, tendo Rogério Bravo sido sempre ilibado dos crimes de abuso de poder e violação do segredo de justiça devido à sua actuação na investigação do caso Football Leaks.

O hacker situou esse alegado negócio no final de Novembro de 2015. Segundo disse, a Judiciária estava interessada em obter o relatório técnico que a Doyen tinha pedido a uma consultora privada sobre a intrusão informática de que tinha sido alvo por parte do grupo de piratas que construíra o Football Leaks. Em troca, garante Rui Pinto, “Rogério Bravo revelou a Nélio Lucas o meu nome, colocando a minha vida em risco”. Disse ainda que a Doyen chegou a contratar pessoas na Hungria para chegarem até ele.

O pirata informático admitiu pela primeira vez há uma semana ter tentado extorquir dinheiro ao fundo investimento Doyen, entidade ligada ao mundo do futebol. Em troca de um pagamento por alegada consultoria informática – chegou a reclamar entre meio milhão e um milhão, verba que mais tarde faria descer para os 125 mil euros pagos ao longo de cinco anos –, o hacker comprometeu-se a parar de divulgar online documentos confidenciais e comprometedores para o fundo de investimento. Acabou, porém, por desistir do negócio.

Embora a mera tentativa de extorsão seja punível, diz a lei que deixa de o ser quando quem a leva a cabo dela desiste voluntariamente. Os juízes que estão a fazer este julgamento vão ter de avaliar até que ponto esta renúncia foi realmente voluntária ou estratégica, motivada pelo medo de ser descoberto pelas autoridades.

O arguido, que reclama o estatuto de denunciante, está acusado de 90 crimes: além da tentativa de extorsão da Doyen, por ter pirateado vários sistemas informáticos, quer de clubes desportivos quer de entidades como a Procuradoria-Geral da República e a Federação Portuguesa Futebol.

Rui Pinto já assumiu ter-se infiltrado em vários destes sistemas, quer da PLMJ quer desta federação. No que respeita ao escritório de advogados, diz que lhe interessavam em especial os documentos na posse da representante legal da filha do presidente de Angola, Isabel dos Santos - que deram origem ao Luanda Leaks.

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