Governo não assume nem exclui comparticipação de medicamentos para obesidade
Manuel Pizarro disse que “o tratamento de excesso de peso e obesidade é muito sério” porque Portugal apresenta “quase 50% da população com excesso de peso ou obesidade e 30% das crianças com excesso de peso ou obesidade”, mas frisou que o foco está na prevenção.
O ministro da Saúde, Manuel Pizarro, disse esta segunda-feira que o tratamento da obesidade será alvo de um programa integrado com foco na prevenção e evitou comprometer-se com a possibilidade de os fármacos para esta doença virem a ser comparticipados.
No Porto, à margem de uma visita ao Instituto Português de Oncologia (IPO), Manuel Pizarro foi confrontado pelos jornalistas sobre a polémica em torno do uso, para perda de peso, de um medicamento indicado para a diabetes tipo 2 e com os pedidos de associações de doentes para que os fármacos para tratamento da obesidade sejam comparticipados pelo Estado, tendo respondido: “Não excluo [essa possibilidade] nem assumo”.
“Quando, e se for clinicamente indicado, abordaremos esse tema, mas sempre no contexto de um plano integrado para abordar estas matérias”, acrescentou.
Manuel Pizarro disse que “o tratamento de excesso de peso e obesidade é muito sério” porque Portugal apresenta “quase 50% da população com excesso de peso ou obesidade e 30% das crianças com excesso de peso ou obesidade”, mas frisou que o foco está na prevenção.
“Nas crianças estamos a melhorar. Na população está a ser mais lento. Abordar a questão do excesso de peso e da obesidade é muito mais do que falar de fármacos. Precisamos de um programa integrado para tratar deste assunto e o primeiro alvo é a prevenção. Não estou a excluir a abordagem farmacológica”, referiu.
A 4 de Março, aquando do Dia Mundial da Obesidade, a Sociedade Portuguesa para o Estudo da Obesidade e a Associação de Doentes Obesos e Ex-Obesos de Portugal alertam para a necessidade de uma resposta mais eficaz a esta doença, que é factor de risco acrescido para infectados com covid-19, um alerta que tem vindo a ser reiterado ao longo dos últimos dias.
“Apesar de ser considerada uma doença crónica, diversas barreiras impedem o controlo das taxas crescentes de prevalência da doença e uma intervenção de sucesso”, lê-se num documento divulgado por estas instituições.
Entre vários aspectos como a falta de resposta nos cuidados primários de saúde, estas instituições apontam que os fármacos de tratamento da obesidade não são comparticipados em Portugal, algo que defendem para evitar “desigualdade económica no acesso ao tratamento por parte de classes mais desfavorecidas”.
A obesidade afecta 650 milhões de adultos em todo o mundo (13% da população), matando por dia quatro milhões. Em Portugal afecta 1,5 milhões, 16,9% da população.
A Organização para a Cooperação e Desenvolvimento Económico (OCDE) aponta para 28,7% dos portugueses, colocando Portugal como terceiro país europeu com maior prevalência da doença, atrás da Hungria e da Turquia, o que leva a Federação Mundial da Obesidade a prever que, em 2025, deverão existir 2,4 milhões de obesos no país.
“Não há risco” no tratamento de doentes com diabetes tipo 2
Durante a mesma intervenção no Porto, o ministro da Saúde assegurou ainda que “não existe risco” no tratamento de doentes com diabetes tipo 2 porque existem “alternativas praticamente iguais” ao medicamento que, embora indicado para essa doença, está a ser usado para perda de peso.
“Há dificuldades no abastecimento desse medicamento para a diabetes tipo 2, mas do ponto de vista clínico essa não é uma preocupação porque, felizmente, existem no mercado alternativas praticamente iguais. Não há nenhum risco de descontinuidade do tratamento eficaz dos doentes. Há medicamentos do mesmo grupo terapêutico com graus de eficácia praticamente similares”, afirmou Manuel Pizarro.
O governante reagia assim à notícia avançada pelo jornal Público segundo a qual um medicamento para a diabetes tipo 2 está a ser receitado para obesos e pessoas que querem emagrecer, algo que terá custado 26 milhões de euros ao Serviço Nacional de Saúde.
Conforme o PÚBLICO noticia, esse medicamento é agora “muito difícil” de encontrar nas farmácias.
Confrontado com a preocupação sobre se poderá estar perante uma ruptura de stock, situação que deixaria prejudicados os doentes com diabetes tipo 2, Manuel Pizarro disse que “do ponto de vista clínico” não está preocupado, mas avançou que terão de ser tomadas medidas.
“Evidentemente que se temos um medicamento que está a ser utilizado de forma desproporcionada sem a indicação adequada, temos de introduzir mecanismos de correcção”, referiu.
No Porto, de visita ao Instituto Português de Oncologia (IOP), o ministro a Saúde referiu que será feita “uma indicação clara no processo informático de prescrição”, a qual obrigará os médicos que prescrevem este medicamento a indicar “com clareza que se trata de uma prescrição para a diabetes tipo 2”.