Com todos a encostar OE à direita, Governo só dialoga à esquerda
Ao contrário de anos anteriores, desta feita o Governo não fez quaisquer contactos com a direita para falar sobre o Orçamento.
Apoiado pela maioria absoluta socialista e com a “geringonça” a não passar de um passado cada vez mais distante, o Governo tem sido criticado pela esquerda parlamentar — numa posição partilhada por diversos comentadores políticos — por ter apresentado um Orçamento do Estado demasiado à direita, desde logo por, pela primeira vez desde que António Costa é primeiro-ministro, pressupor perda de rendimentos e de poder de compra, mas também pelo ênfase reforçado nas contas certas.
Depois de na quinta-feira se ter reunido com PCP, Livre e PAN, o executivo reuniu-se ontem com o Bloco para discutir o Orçamento do Estado para 2023 (OE2023). A exemplo de anos anteriores, o Governo continua assim a privilegiar os antigos parceiros no que à negociação do OE2023 diz respeito. Mais: o PÚBLICO apurou que o executivo não tem mesmo prevista qualquer reunião com partidos da direita.
Desta vez nem sequer foram explorados os contactos informais que em exercícios orçamentais anteriores foram mantidos tanto com o PSD como com a Iniciativa Liberal (o Chega ficou sempre de fora deste tipo de contactos pós-apresentação da proposta orçamental).
O primeiro-ministro tem repetido a ideia de que maioria absoluta não é poder absoluto e prometido uma “maioria dialogante”, que António Costa tenta traduzir nestas reuniões à esquerda. E a tentativa de diálogo única e exclusivamente com os partidos da esquerda poderá também sinalizar uma intenção de descolar do OE2023 a imagem mais à direita que lhe vem sendo colada, a começar por PCP e BE.
Dos encontros já realizados resulta claro que as forças da esquerda parlamentar estão longe de poder apoiar o OE2023, sendo que apenas PCP, PAN e Livre parecem deixar margem para negociar. Já o BE considera que o Governo está a fazer um “simulacro” de diálogo