Já existia como canil municipal, mas nunca foi a favor do abate dos animais que albergava. Em 2013, mudou o nome para Casa dos Animais de Lisboa (CAL), um centro de recolha de animais errantes que pertence à Câmara Municipal e, desde então, dedica-se à recolha e tratamento de cães e gatos abandonados da cidade.
Sofia Baptista e a médica veterinária Marta Videira, duas das responsáveis pela CAL, começam por contar que nada disto seria possível sem os funcionários, a participação dos 88 voluntários activos e a brigada cinotécnica dos bombeiros sapadores que, diária e semanalmente, procuram melhorar a estadia destes animais com treinos de sociabilização, passeios, mimos e brincadeiras.
A instituição alberga actualmente quase 300 animais, muitos deles com um passado de maus tratos. Há também aqueles que estão à espera de uma nova casa desde 2016.
Apesar do elevado número de cães e gatos, a CAL promove uma “adopção responsável”. Isto quer dizer que os animais só estão disponíveis para receberem as visitas dos futuros tutores 15 dias depois de serem recolhidos, período de tempo estipulado para serem “esterilizados, vacinados contra a raiva e as doenças infecto-contagiosas e desparasitados”, explica a médica Marta Videira. Além disto, os técnicos têm que perceber se o futuro dono não está a adoptar por impulso.
“As adopções são feitas sete dias da semana, com marcação e incentivamos as pessoas a virem mais do que uma vez para tentarmos perceber qual é o perfil do animal que querem. Há pessoas que gostam de animais mais energéticos, há outras que gostam de mais calmos. Temos que perceber se querem gato, se querem cão”, acrescenta Sofia Baptista.
A CAL é também a prova que existem finais felizes para os animais que se perdem dos donos e voltam a reencontrá-los algum tempo depois. Sofia e Marta desvendam um pouco da causa que as move, sugerem novas ideias e contam o que falta desta história.
Uma medida prioritária pelos direitos dos animais
O garante do bem-estar e da saúde do animal. No fundo, são as sete liberdades dos animais, onde se inclui a socialização, o bem-estar, a alimentação, a saúde, a sociabilização. É o direito à vida e vida com segurança e qualidade, que é aquilo que também esperamos para nós.
Um caso marcante
Temos vários, um deles é o Caramelo. O Caramelo é um cão que faz parte da matilha da CAL, é nosso, de estimação. Nunca o colocamos para adopção e ele é, de facto, muito feliz integrado na nossa estrutura.
É um cão que nos marcou muito, porque chegou numa situação muito grave. Foi atropelado, estava em estado choque e quase a morrer.
Nós sabemos que o dono estava no local, mas fugiu, não quis assumir nada. Não estamos apenas a falar da questão das despesas médicas, porque isso era o mínimo, mas nem sequer avançou pela salvaguarda deste animal. O que se seguiu foi um processo muito complexo que envolveu a recuperação e fisioterapia. O Caramelo sofreu bastante e depois foi integrado na nossa matilha.
Um conselho para quem quer adoptar um animal
Pensar se a família tem disponibilidade. E quando dizemos disponibilidade é toda, ou seja, disponibilidade mental, tempo para educar qualquer animal, seja cachorro ou animal adulto que precisa de recuperação. Acima de tudo, perceber se a família está em uníssono: se todos querem, o que é que todos querem, se estão todos disponíveis para o animal, o que é que cada um está disponível para dar ao animal.
Claro que a pessoa também tem que ter alguma disponibilidade financeira. O animal é como uma carta em branco, é como todos nós, pode vir a desenvolver algum problema de saúde que necessite de ser tratado e a pessoa tem que ter disponibilidade em dar os tratamentos médico-veterinários que ele necessite.
Um projecto que tem que ser conhecido
O programa Vet na Rua que é desenvolvido com a associação Animalife que tem um cariz médico-veterinário e também faz o apoio social e animal às famílias que estão identificadas como carenciadas. Estas famílias podem recorrer a este serviço para as ajudar com vacinações, esterilizações e cirurgias do animal.
Uma pessoa anónima que vale a pena conhecer
É uma pergunta muito desafiante e existe o receio de dar uma resposta injusta. Temos muitas pessoas dedicadas: temos quatro encarregados e um encarregado-geral, os técnicos veterinários, o gabinete de apoio e promoção à adopção e os voluntários que ficam com a guarda dos animais mais frágeis e pequenos.
Um destes voluntários é a Dona Fernanda que é uma pessoa excepcional. Cuida de todos os gatos que nos chegam, às vezes ainda com o cordão umbilical, que têm de ser alimentados de duas em duas horas e leva-os para casa até eles conseguirem comer sozinhos e serem adoptados.
Estamos a falar com uma pessoa com alguma idade e que não é muito saudável. Faz um sacrifício enorme em prol dos animais e da causa.