Uma longa vida não se descreve, ninguém a vê passar

Tudo na autora de A Sibila é reinvenção, fulguração, pensamento vivo, brincadeira desconcertantemente séria, “desordem e travessura”. Uma obra nada menos do que genial.

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Agustina Bessa-Luís: "uma estrela no firmamento", para usar uma expressão sua, dos escritores de língua portuguesa adriano miranda

1. Maria Velho da Costa conta que viu “a família Cavaco entrar em Belém, em peso, a pé, como quem dá início a uma nova dinastia”. Não esteve lá, mas viu na televisão as imagens da tomada de posse do ex-Presidente da República, em Março de 2006. É numa obra escrita a quatro mãos com Armando Silva Carvalho, sob a forma epistolar, que relata como entreviu Agustina, “o nosso último génio literário vivo […] entre as multidões.” E com alguma ironia interroga-se sobre o que a autora de A Sibila diria ao novo presidente: “Que gnomo do Norte, ser irracional ou bacante ela levaria consigo para lhe dizer ao ouvido a natureza interior e cúpida de tantos circunstantes?” (O Livro do Meio). Estas observações assinalam uma certa presença habitual de Agustina em eventos palacianos, no quadro da cena política, sublinhando-se a propalada voz oracular da escritora. Mas interessa-me destacar outro ponto: a genialidade da autora de Os Incuráveis, referida por Maria Velho da Costa, que foi apontada por distintas e insuspeitas vozes, de José Saramago a Manoel de Oliveira ou António José Saraiva.

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