É pela palavra que entramos na cabeça de Tim Crouch

Criada em reacção à proliferação de teatro digital durante a pandemia, Truth’s a Dog Must to Kennel, de 14 a 16 de Outubro no TBA, Lisboa, recorre ao texto como principal ferramenta para activar a imaginação.

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Stuart Armitt
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Edgar conduz Gloucester, o seu pai, até à falésia de Dover. Na verdade, sobem apenas uma colina, mas Edgar, disfarçado de pedinte, convence Gloucester, cego depois de ter sido torturado, de que ambos se encaminham para o topo de um penhasco. E dá-lhe a entender que se Gloucester der mais um passo, lançar-se-á sobre o abismo e acabará com o seu desespero — podendo, depois, dizer-lhe que foi salvo por vontade divina. Foi nesta cena de Rei Lear que o dramaturgo inglês Tim Crouch pensou quando lhe ocorreu criar uma peça que, adoptando um dispositivo de realidade virtual, partisse da situação descontrolada do teatro tornado matéria de streaming e alimento digital durante a pandemia. E o centro de Truth’s a Dog Must to Kennel (uma das falas do Bobo na peça de Shakespeare, qualquer coisa como “A verdade é um cão que tem de ir para o canil”) é o da criação de um mundo na cabeça de cada espectador, mas através da linguagem e não com recurso a qualquer gadget electrónico. A cena da falésia de Dover, explica Crouch ao Ípsilon, “é uma apoteose daquilo que o teatro pode criar — ao usar apenas a linguagem, ao recorrer simplesmente à presença humana como forma de nos transportarmos, entramos noutro mundo e imergimos em nós mesmos”.

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