Cancro colorrectal: estes sintomas são mesmo para levar a sério
Se for diagnosticado a tempo, o cancro colorrectal tem elevada probabilidade de cura. Conheça os sintomas a que deve estar atento e não adie mais a ida ao médico.
É muito provável que conheça alguém que já enfrentou um cancro colorrectal, ou está neste momento a fazê-lo, e isto porque Portugal é o sétimo país do mundo onde, todos os anos, se regista o maior número de novos casos deste tumor, segundo dados do World Cancer Research Fund International. Entre nós é, aliás, o segundo mais frequente, tanto nos homens como nas mulheres, e também o segundo cancro que mais mortes causa, tanto em Portugal como no mundo, de acordo com a Agência Internacional para a Investigação do Cancro. Importa, pois, chamar a atenção para este tipo de tumor, uma vez que, quando detectado precocemente, tem uma elevada probabilidade de cura, como salienta a presidente do Grupo de Investigação do Cancro Digestivo (GICD), Anabela G. Barros, em entrevista realizada por ocasião do Dia Mundial do Cancro Digestivo, assinalado a 30 de Setembro.
Atenção à idade, antecedentes e estilo de vida
Antes de mais, convém ter em conta que se designa por cancro colorrectal qualquer tumor maligno localizado na porção do tubo digestivo que vai desde o cólon ao recto, ou seja, “desde o cego, que é a porção inicial do cólon logo após o intestino delgado, até ao recto, que se inicia logo acima do ânus”, explica a médica. Quanto às principais causas ou factores de risco para o seu desenvolvimento, a especialista, que é também directora do Serviço de Oncologia do Centro Hospitalar e Universitário de Coimbra (CHUC), destaca a idade (a incidência aumenta a partir dos 50 anos), assim como “os antecedentes pessoais do doente, nomeadamente, a doença inflamatória crónica intestinal - doença de Crohn ou colite ulcerosa -, a identificação prévia de pólipos do cólon e a história familiar do doente”.
Por outro lado, há ainda “factores que se associam aos hábitos de cada um de nós, como é o caso da dieta pobre em fibras e rica em gorduras, o tabagismo, o alcoolismo e a obesidade”. Isto é, factores associados ao estilo de vida e que são susceptíveis de mudança, com vista a prevenir o aparecimento não só deste tipo de cancro, como da grande maioria das doenças oncológicas.
Sintomas que devem alertar
São vários os sintomas do cancro colorrectal, os quais “dependem da sua localização - mais próxima do recto ou mais próxima do cego - e do tempo de evolução da doença”. Com efeito, “no início, os sintomas são mais leves e muitas vezes pouco valorizados pelo doente, mas posteriormente vão-se agravando à medida que a doença progride”, afirma.
Entre os sinais a que o doente deve estar atento contam-se as “alterações do funcionamento intestinal, quer se trate de obstipação ou diarreia, perda de sangue nas fezes, desconforto ou dor abdominal, cansaço, redução do apetite e perda de peso”. Quando o cancro se localiza no recto, “é mais frequente a perda de sangue vivo nas fezes, a sensação permanente da necessidade de evacuar – as chamadas falsas vontades - ou a sensação de pressão anal que não alivia com as dejecções”, pormenoriza.
Porém, “muitas vezes, o cancro colorrectal só provoca sintomas em estádios mais avançados”, pelo que “a melhor recomendação é de que não se desvalorize qualquer sintoma de que a pessoa se aperceba, devendo esta consultar rapidamente o seu médico assistente”, aconselha. Caberá a este profissional, que pode ser o médico de família, elaborar “uma história clínica detalhada, por vezes com identificação de sintomas ou sinais de que o doente não se apercebeu ou valorizou, e que podem ser importantes para um diagnóstico mais precoce”.
Como se diagnostica?
Perante os sintomas identificados, o médico solicitará a realização de alguns exames, nomeadamente, a pesquisa de sangue oculto nas fezes e, caso este seja detectado, a colonoscopia total com biópsia, que confirmará, ou não, a doença. “A colonoscopia é um exame realizado com um tubo, o colonoscópio, introduzido por via anal, que permite observar a mucosa do cólon e do recto, identificar e remover pólipos e fazer biópsias a lesões suspeitas”, esclarece a oncologista. De salientar que “é fundamental uma boa preparação intestinal, antes da realização do exame, de forma a permitir a realização de um exame total com boa visibilidade de toda a mucosa”, sendo que este exame pode fazer-se sob sedação, eliminando qualquer dor ou desconforto para o doente.
Quanto à idade a partir da qual deve realizar-se a primeira colonoscopia, Anabela G. Barros, lembra que a recomendação actual aponta para os 50 anos, “embora alguns trabalhos comecem a falar de antecipar o primeiro exame para os 45 anos”.
Tudo o que contribuir para que este cancro seja detectado o mais cedo possível deve ser posto em prática, uma vez que “o diagnóstico precoce aumenta muito a probabilidade de cura, a possibilidade de evitar procedimentos como a colostomia - o que os doentes designam por saco - e tratamentos como a quimioterapia, que têm um custo associado em termos de toxicidade com impacto negativo na vida do doente”, refere. Além disso, “estes tratamentos acarretam deslocações periódicas, mais ou menos frequentes, ao hospital o que, só por si, impacta negativamente na qualidade de vida do doente”.
Prevenir sempre, o mais possível
Entre as medidas que todos podemos adoptar para ajudar a reduzir o risco de cancro colorrectal, a médica aponta uma “dieta rica em fibras e pobre em gorduras, com moderação no consumo de carnes vermelhas, reduzir o consumo de álcool, evitar o tabagismo e controlar o peso”. No caso de pessoas com história pessoal ou familiar de pólipos do cólon ou doença inflamatória crónica intestinal, é de ter em conta que “existem planos de vigilância adequados e bem estabelecidos”, os quais devem ser seguidos por indicação médica.
Que tratamentos estão disponíveis?
O tratamento deste tipo de tumor assenta na cirurgia, que é “a única forma de curar um cancro colorrectal”. No entanto, como realça a médica do CHUC, “a realização de uma cirurgia curativa pode necessitar, consoante o estádio na altura do diagnóstico, de radioterapia e/ou de quimioterapia, idealmente realizadas antes da cirurgia”.
Pode ainda haver recurso à quimioterapia, realizada já após a cirurgia, “com o intuito de reduzir o riso de recidiva”, isto é, de reincidência da doença. Além disso, a quimioterapia pode também “constituir a única alternativa terapêutica” nos casos em que a doença progrediu para outros órgãos, nomeadamente, para o pulmão, fígado, ossos ou outros. Quando se verifica metastização óssea (ou seja, quando a doença avançou para os ossos) é igualmente possível o recurso a radioterapia, sobretudo com o objectivo de “reduzir a dor ou o risco de fractura”.
Entre os avanços mais recentes observados no tratamento deste carcinoma, a especialista destaca “o maior conhecimento dos tumores, que permite realizar uma terapêutica personalizada”, segundo a qual, “o conhecimento das características individuais de cada tumor, a que se chama perfil molecular, permite seleccionar e sequenciar terapêuticas, que incluem agentes biológicos e imunoterapia, os quais podem ser associados à quimioterapia clássica”. Porém, adverte que “devemos ter a humildade de reconhecer a necessidade de prosseguir a investigação nesta área”.
Acima de tudo, a médica chama a atenção para a necessidade de haver uma adequação das opções terapêuticas disponíveis “ao doente que vamos tratar”, e isto “levando em consideração factores como a idade, o estado geral, as doenças associadas e as toxicidades que podemos esperar de cada terapêutica”. Por outro lado, sublinha a importância de o clínico “discutir com o doente as opções disponíveis, explicando com cuidado as razões da escolha e eventual impacto na sua qualidade de vida”. “Cabe ao doente decidir qual a opção que está disposto a aceitar, uma vez que o que cada doente valoriza não é, necessariamente, o que o médico considera mais relevante”, enfatiza.
Fontes:
- https://www.wcrf.org/cancer-trends/colorectal-cancer-statistics
- https://gco.iarc.fr/today/data/factsheets/populations/620-portugal-fact-sheets.pdf
- https://gco.iarc.fr/today/data/factsheets/cancers/10_8_9-Colorectum-fact-sheet.pdf