Instituto do Porto lidera projecto para intervir de forma precoce na doença de Crohn

Projecto é financiamento em sete milhões de euros pelo programa Horizonte Europa, da Comissão Europeia. O objectivo é encontrar respostas para várias hipóteses ligadas à doença de Crohn.

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A doença de Crohn é uma das principais doenças inflamatórias do intestino Daniel Rocha

Cientistas do Instituto de Investigação e Inovação em Saúde da Universidade do Porto (I3S) lideram um projecto, financiado em sete milhões de euros, que visa prever, intervir precocemente e evitar a doença de Crohn, foi anunciado esta segunda-feira.

Em comunicado, o instituto revela que o projecto, intitulado “GlycanTrigger” e financiado pelo programa Horizonte Europa, da Comissão Europeia, pretende encontrar respostas para várias hipóteses associadas à doença de Crohn, como “o que causa a inflamação do intestino” e o que “acontece na mucosa intestinal”. A doença de Crohn é uma das principais doenças inflamatórias do intestino e afecta cerca de três milhões de pessoas na Europa. Em Portugal, estima-se que cerca de 15 a 20 mil pessoas sofram desta doença.

Citada no comunicado, a coordenadora do projecto, Salomé Pinho, esclarece que na doença de Crohn “há evidências da existência de uma fase pré-clínica”, na qual ainda não há sintomas e que se caracteriza por alterações imunitárias ao nível da mucosa intestinal. Esta fase assintomática pode “durar anos”, observa a investigadora, acrescentando que no projecto vai ser proposta uma “abordagem completamente inovadora” para compreender a transição da saúde, isto é, de uma mucosa intestinal normal para a inflamação crónica do intestino.

“Trata-se de um projecto transformador cujos resultados serão traduzidos numa melhor compreensão dos mecanismos específicos que levam à inflamação intestinal e consequentemente à capacidade de prever e prevenir a doença”, salienta a investigadora do I3S. Salomé Pinho esclarece ainda que, pela “primeira vez”, os investigadores vão estudar como é que as alterações na mucosa intestinal, em particular na camada protectora formada por açúcares que cobre toda a superfície do intestino, podem actuar como um “evento primário” ao desencadear a desregulação do microbioma intestinal e levar à activação da resposta imunitária do intestino.

Ao longo dos próximos seis anos, os investigadores vão também estudar como é que as alterações que desencadeiam a doença de Crohn podem ser detectadas no sangue, desenvolvendo um “novo biomarcador capaz de prever o início da inflamação intestinal anos antes de um diagnóstico”. “Teremos novas ferramentas preditivas da doença e novas estratégias de intervenção precoce para prevenir a inflamação intestinal”, acrescenta a investigadora.

O projecto envolve nove parceiros europeus e norte-americanos. Enquanto entidade coordenadora, o I3S irá receber perto de 3,5 milhões de euros para desenvolver grande parte das análises laboratoriais e dos modelos experimentais (desde estudos celulares a modelos animais e análises em amostras de doentes).

Para tal, a equipa de investigadores vai recorrer a “tecnologias de ponta” em diferentes áreas, a par de análises detalhadas de amostras de doenças, na qual irá contar com a contribuição do serviço de gastroenterologia do Centro Hospitalar Universitário do Porto (CHUP).

Para além do I3S, integram o projecto o Hospital da Luz (em Lisboa), a Universidade de Sorbonne (França),o Centro Médico Universitário de Leiden (Países Baixos), a Escola de Medicina de Icahn no Monte Sinai (Estados Unidos) ou a Sociedade Portuguesa de Inovação. No projecto, uma associação europeia de doentes com doença inflamatória intestinal vai garantir o envolvimento da sociedade civil e o impacto do projecto na melhoria da qualidade de vida dos doentes.