As duas vivem da agricultura, mas não podiam votar mais distinto

Wanderley, na Bahia, deu 96,61% dos votos a Lula da Silva na primeira volta das eleições. Nova Pádua, no Rio Grande do Sul, voltou a ser a mais bolsonarista de todas as cidades do Brasil.

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Danrlei Pilatti e Fernand Sá Teles, presidentes da câmara de Nova Pádua e de Wanderley, respectivamente, são ambos do Progressistas DR

Já em 2018, no meio da onda bolsonarista, Wanderley, um pequeno município do extremo oeste baiano que vive da agricultura e da pecuária, tinha demonstrado a sua aversão às propostas de Jair Bolsonaro, que na segunda volta, contra Fernando Haddad, do Partido dos Trabalhadores, obteve apenas 26,79% dos votos. Desta vez, a rejeição foi ainda maior, com o actual Presidente a obter apenas 2,82% dos votos dos 10.946 eleitores da cidade.

A opção por Lula nem deriva do facto de o município nordestino – criado apenas em 1985 a partir de um distrito da cidade de Cotegipe – ser um antro de esquerdismo, já que a presidente da câmara, Fernanda Sá Teles (reeleita em 2020 com 57,92% dos votos) é do Progressistas, um partido de direita que nesta quinta-feira anunciou o seu apoio a Bolsonaro.

Nova Pádua, cuja criação remonta a 1886 com a chegada de sete famílias provenientes do Véneto, em Itália, é um município rural onde a agricultura corresponde a 85% do PIB. Já em 2018 tinha sido a mais bolsonarista de todas as cidades brasileiras e no domingo passado voltou a repetir o feito e ainda com mais votos para o actual chefe de Estado. Bolsonaro ganhou com 83,92% dos votos, contra 10,35% de Lula.

Curiosamente, também na cidade do Rio Grande do Sul o presidente da câmara é do Progressistas: “Acredito em um sentimento favorável ao Presidente, e também tem uma rejeição ao mensalão, ao petrolão, à corrupção, ligado aos valores da cidade, do trabalho, do empreendedorismo, da livre iniciativa, associado à família e à fé, e que não tem nada de fascismo e não tem nenhum prejuízo ao meio ambiente”, disse Danrlei Pilatti ao G1.

Se os dois municípios se assemelham por serem rurais e dependerem sobretudo da agricultura e da pecuária, a diferença de povoamento, de história, a sua ligação ao agronegócio (Nova Pádua) e à pequena agricultura de subsistência (Wanderley), além da geografia onde estão inseridas (a primeira no Sul, a segunda no Nordeste), ditam esse comportamento diametralmente oposto na hora de votar.

“Ao longo da história socioeconómica e política, essas regiões foram fortemente marcadas por grandes contrastes económicos e relegadas a serem apenas regiões de exploração agrícola. Esse foi um cenário que se transformou com os governos petistas [do PT]”, explica ao diário Correio, da Bahia, o sociólogo Fagner Bonfim.

Bonfim ressalva que a implantação de políticas públicas para desenvolver a população rural, nomeadamente a democratização do acesso à educação, permitiu que a população no Nordeste, sobretudo a mais jovem, sentisse a melhoria das suas condições de vida e a o surgimento de novas oportunidades de trabalho. E isso reflecte o peso de Lula (mais do que o PT – Fernando Haddad, na segunda volta das presidenciais de 2018, contra Bolsonaro, conseguiu ‘apenas’ 73,21% dos votos em Wanderley) nas eleições no Nordeste brasileiro.

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