Após as eleições, eleitores de Bolsonaro espalham falsas acusações de fraude nas redes sociais
Depois de os resultados da primeira volta das eleições terem dado um resultado favorável a Lula, várias publicações com desinformação têm surgido nas redes sociais através de contas de apoiantes de Jair Bolsonaro.
Após a conclusão da primeira volta das eleições presidenciais no Brasil, conteúdos desinformativos acusando fraude nas urnas electrónicas tiveram muita divulgação nas redes sociais. Desde as eleições passadas que o Presidente Jair Bolsonaro (PL) faz acusações sem provas à autenticidade dos resultados.
Empoderados pelo Presidente, eleitores passaram a divulgar teorias da conspiração sobre o processo eleitoral, ainda que ele tenha passado para a segunda volta e eleito diversos aliados para cargos importantes em disputas estaduais. Leia, abaixo, algumas verificações feitas pela Lupa sobre esses conteúdos:
“CIDADES QUE ATÉ OS MORTOS VOTARAM EM LULA. N.S. da Glória: (Se) 3053 habitantes, 4615 votaram em Lula. Porto da Pedra: (Pe) 6122 habitantes, 8090 votaram em Lula. Poço das Antas: (Pe) 4342 habitantes, 5873 votaram em Lula. Xique Xique: (BA) 43.548 habitantes, pasmem!, 64.805 habitantes votaram no Lula. Barragem: (BA) 25.687 habitantes, 31.338 votaram em Lula. Nova Liberdade: (BA) 11.026 habitantes, 16.192 votaram em Lula. Novaçores: (BA) 9622 habitantes, 12.351 votaram em Lula. Guananbim. (BA) 19.764 habitantes, 22.538 votaram em Lula. Joaçaba: (BA) 6142 habitantes, 6984 votaram em Lula. Antas: (BA) 11.434 habitantes, 18.001 votaram em Lula. * E mais 192 cidades brasileiras (Bahia com maior número) em que os mortos RESSUSCITARAM para VOTAR em Lula.*”
Mensagem que se tornou viral no WhatsApp e noutras redes sociais
Avaliação da Lupa: Falso
De acordo com dados do Tribunal Superior Eleitoral (TSE), Lula ficou à frente de Bolsonaro nas cidades de Nossa Senhora da Glória (SE), Porto das Pedras (AL), Xique-Xique (BA), Barreiras (BA), Nova Soure (BA), Guanambi (BA) e Antas (BA). Em Poço das Antas (RS) e Joaçaba (SC), Bolsonaro liderou. Em todos os casos, como esperado, a população é maior do que o número de votos nos candidatos. Em nenhum deles, a população ou o número de votos mencionados na peça de desinformação condiz com a realidade. Veja os dados compilados aqui.
Numa secção eleitoral em Uberlândia (MG), o número de votos totais para Presidente foi maior do que o número de votos em governadores, deputados e senadores. Isso é um indício de fraude.
Avaliação da Lupa: Falso
O facto de determinadas urnas terem mais votos para Presidente do que para outros cargos não é indício de fraude. Isso significa, somente, que a secção foi designada para votos em trânsito. Como eleitores que votam em trânsito fora do seu estado de origem não votam em governadores, deputados e senadores, é natural que a urna tenha mais votos totais para Presidente. A secção 100 da zona eleitoral 276 de Minas Gerais, localizada em Uberlândia, é um desses casos.
Nas eleições gerais, eleitores que sabem com antecedência que não estarão no município em que residem na data da votação podem pedir para votar em trânsito. Quando esse registo é feito, o cartório eleitoral da cidade em que ele estará designa uma urna específica para que ele realize seu voto. Caso a viagem seja dentro do estado de residência, o eleitor pode votar para todos os cargos. Caso não, ele só pode votar para Presidente — visto que a biblioteca de candidatos do seu estado não estará presente na urna designada.
Há outros casos de vídeos semelhantes a esse. Nesta quarta-feira, por exemplo, a Lupa verificou um vídeo com uma tese parecida, mas com referências a uma secção em Macapá (AP).
Boletins de urna são encontrados no meio da rua em Curitiba. Portanto, esses votos não foram computados.
Vídeo que se tornou viral no WhatsApp, no Facebook e noutras redes sociais
Avaliação da Lupa: Falso
Os boletins de urna impressos não são usados para fazer a totalização dos votos. Segundo o Tribunal Regional Eleitoral do Paraná (TRE-PR), os documentos servem apenas para conferência do público em geral e dos partidos, sendo impressos pelos mesários de cada secção eleitoral, ao final da votação, em pelo menos cinco vias. A contagem oficial acontece usando os cartões de memória inseridos nas urnas electrónicas, que, após a votação, têm os dados transmitidos para a contagem dos votos no sistema do Tribunal Superior Eleitoral (TSE). Portanto, mesmo que esses documentos tenham sido perdidos, a contabilização é realizada normalmente.
No vídeo, é possível ver os dados do boletim de urna encontrado pela mulher. Lêem-se o número da zona eleitoral (0175), o local de votação (1040) e a secção eleitoral (0164), além do número dos eleitores aptos (0380), do comparecimento (0307) e do total de eleitores faltosos (0073). No próprio site do TSE é possível todos os dados do mesmo documento, o que também comprova que esses resultados foram computados. Bolsonaro teve 152 votos, enquanto o ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva (PT) conseguiu 115.
A televisão mostra dados da apuração. Por alguns segundos, Bolsonaro aparece à frente com 55% dos votos. Depois, a tela volta para uma parcial com Lula liderando com 46%, contra Bolsonaro, com 45%. Esse foi o momento em que o TSE mudou os votos.
Avaliação da Lupa: Falso
O vídeo mostra um trecho da transmissão da Jovem Pan, canal de televisão voltado para o público bolsonarista. Enquanto o apresentador Adalberto Piotto falava do apuramento dos votos à presidência em todo o Brasil, na tela ao fundo, o gráfico mudou e passou a mostrar os resultados referentes ao estado do Paraná — onde Bolsonaro recebeu, de facto, 55% dos votos, segundo a contagem oficial.
Comprovantes de votação indicam que alguns eleitores já votaram no segundo turno das eleições
Mensagem que circula junto com foto dos tais comprovantes em redes sociais
Avaliação da Lupa: Falso
A informação analisada pela Lupa é falsa. Nenhum eleitor votou para a segunda volta, que será realizada no dia 30 de Outubro. A foto dos comprovantes que circula nas redes sociais é de uma prova de impressão que não foi utilizada no dia da eleição.
De acordo com o Tribunal Regional Eleitoral do Espírito Santo (TRE-ES), houve um erro na impressão dos cadernos de votação que seriam enviados para a cidade de Pancas. Uma nova impressão foi feita e, com os dados correctos, enviada para a 36.ª Zona Eleitoral. Contudo, segundo o TRE-ES, “a gráfica não fez o descarte adequado do material, deixando os comprovantes de votação íntegros”, conforme mostra a foto.
O tribunal afirmou que o cartório de Pancas recebeu apenas um caderno de votação para cada turno e que nenhum eleitor votou para o segundo turno.
Este trabalho resulta de uma parceria entre o PÚBLICO e a Agência Lupa.
Autores: Róbson Martins, João Heim, Gabriela Soares e Iara Diniz
Edição: Chico Marés