A cerimónia de abertura do ano académico da Universidade de Lisboa, que aconteceu esta quinta-feira, na Aula Magna, estava a ser relativamente normal. Até que o reitor da instituição, Luís Ferreira, foi interrompido. O discurso ainda não tinha saído da parte dos cumprimentos quando um grupo de estudantes começou a produzir um ruído estridente. “O que é que se passa?”, perguntou o reitor, mesmo antes de uma mulher jovem sacar de um megafone, que usou para dizer o seguinte: “Estou aqui porque estou assustada com a crise climática. E acho que muitas de vocês também estão.”
O que aconteceu esta quinta-feira foi um protesto do movimento Fim ao Fóssil: Ocupa!, que começou a manifestar-se no mês passado e que deseja ocupar diversas escolas e universidades até ao fim de 2022, reivindicando o fim do recurso aos combustíveis fósseis em Portugal. O movimento, que é o braço português de um apelo internacional, foi “lançado” pelo núcleo de Lisboa da Greve Climática Estudantil — do qual faz parte a estudante que esta tarde silenciou Luís Ferreira.
A Universidade de Lisboa estava a transmitir a sua cerimónia de abertura do ano académico via YouTube (link aqui). O vídeo tem duas horas, 24 minutos e 50 segundos (2h24m50s) de duração; o protesto começa aos 1h32m01s. Poucos segundos após a estudante ter começado a gritar para o megafone, o vídeo ficou praticamente sem som. Porém, num comunicado a que o PÚBLICO teve acesso, o núcleo de Lisboa da Greve Climática Estudantil refere que a activista terá dito: “Estamos com 1,1ºC de aquecimento global [isto é, a temperatura global subiu 1,1 graus Celsius face aos valores pré-industriais], estamos em plena crise climática. Temos de interromper a normalidade.”
Segundo o comunicado, foram dez os estudantes que se juntaram para interromper o discurso do reitor Luís Ferreira. Estariam a ser “empurrados para fora da Aula Magna” quando pediram: “No dia 7 de Novembro, ocupa a tua faculdade pelo fim ao fóssil.”
No seu site, o Fim ao Fóssil: Ocupa! afirma desejar “o fim aos combustíveis fósseis até 2030”. Também quer “o fim a todos os fósseis no Governo”, “começando pelo actual ministro da Economia e do Mar”, António Costa Silva — que já presidiu ao conselho de administração da petrolífera Partex.
A Greve Climática Estudantil promete estar activa nos próximos tempos. Há duas semanas, no dia 23 de Setembro (uma sexta-feira), os jovens portugueses responderam ao apelo internacional Fridays for Future e faltaram às aulas. Trocaram a escola pelas ruas, que ocuparam com cartazes e vozes a criticar os impactos da actividade humana na saúde do planeta. Dizendo que vêm a ser ignorados pelos decisores políticos, os estudantes prometeram mais manifestações.