Guterres pede aos líderes mundiais que participem na Cimeira do Clima

Financiamento da acção climática e discussão do pagamento de perdas e danos relacionados com as alterações climáticas são duas questões urgentes, frisa o secretário-geral da ONU.

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"A guerra na Ucrânia está a deixar a acção climática para trás", alertou António Guterres EPA/JUSTIN LANE

O secretário-geral das Nações Unidas, António Guterres, apelou aos líderes mundiais para que participem na Conferência do Clima da ONU (COP27) em Sharm el-Sheik, no Egipto, entre 6 e 18 de Novembro. “Os líderes podem demonstrar através da sua presença e participação activa que a acção climática é a maior prioridade global, tal como deve ser”, afirmou.

“As emissões [de gases com efeito de estufa que estão por trás do aquecimento global] estão mais altas que nunca e a subir. E entretanto, a guerra na Ucrânia está a deixar a acção climática para trás, enquanto o nosso planeta a está a arder”, alertou Guterres, num discurso feito a propósito do último encontro de delegações de alto nível antes da COP27, que está a decorrer em Kinshasa, na República Democrática do Congo.

Tem de haver progressos significativos em duas áreas fundamentais, sublinhou o secretário-geral da ONU: “Precisamos de decisões e acções para lidar com a questão de perdas e danos [relacionadas com as alterações climáticas] que estão para além da capacidade dos países em adaptarem-se, e também sobre o financiamento da acção climática”, disse.

A questão das perdas e danos é delicada: os países ricos, grandes emissores históricos, não vêem de bom grande a discussão do pagamento de compensações por catástrofes relacionadas com as alterações climáticas em países mais pobres. Neste momento, está ainda a discutir-se como incluir o tema na agenda da COP27.

“Se não agirmos nesta área, isso conduzirá a uma maior perda de confiança e mais alterações climáticas”, avisou Guterres. “Este é o teste decisivo para avaliar a seriedade com que tanto os países desenvolvidos como em desenvolvimento encaram os custos crescentes das alterações climáticas que estão a enfrentar as nações mais vulneráveis””, frisou António Guterres.

Sobre o financiamento da acção climática, o secretário-geral das Nações Unidas sublinhou que é preciso clareza da parte dos países desenvolvidos sobre em que ponto realmente estão na entrega dos 100 mil milhões de dólares anuais que se comprometeram a destinar para apoiar os países em desenvolvimento.

“Precisamos de ver provas de como vai ser duplicado o financiamento das medidas de adaptação para pelo menos 40 mil milhões de dólares em 2025, tal como foi acordado em Glasgow”, na Conferência do Clima do ano passado, disse Guterres.

O financiamento de medidas de adaptação e resiliência climática deve representar pelo menos metade de todos os projectos de finanças climáticas, sublinhou. Para isso, os bancos multilaterais de desenvolvimento, incluindo o Banco Mundial, devem aumentar o seu apoio, frisou.

“Os compromissos colectivos dos governos do G20 [que se vai reunir a 15 e 16 de Novembro, na Indonésia, durante a COP27] estão a revelar-se demasiado curtos e tardios. As acções das economias mais ricas e desenvolvidas, e das economias emergentes simplesmente não chegam. Contabilizando os compromissos que já assumiram, vemos que estas políticas estão a fechar as portas à nossa possibilidade de limitar a dois graus a subida da temperatura global, e muito menos de atingir o objectivo de apenas 1,5 graus”, chamou a atenção o secretário-geral das Nações Unidas.

“É tempo de alcançarmos compromissos de um novo nível entre os países desenvolvidos e as economias emergentes”, afirmou.