Cavaco Silva avalia seis meses do Governo de Costa: “Desorientado” e “sem vontade reformista”

Esta é a terceira vez que Aníbal Cavaco Silva se pronuncia sobre o desempenho do actual executivo de António Costa. Faz balanço dos primeiros seis meses e a nota é, sem surpresas, negativa. O ex-Presidente da República diz que o Governo está “desorientado”, a “navegar à vista” e a desperdiçar oportunidades de reforma.

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Cavaco Silva tinha desafiado António Costa a fazer melhor do que o trabalho feito durante a maioria absoluta do PSD DANIEL ROCHA

O prazo tinha sido traçado por Aníbal Cavaco Silva: precisava de seis meses do Governo de maioria absoluta do PS para ter “informação objectiva” que permitisse uma avaliação da “coragem política” de António Costa para fazer “reformas decisivas”. Esta sexta-feira, num artigo de opinião no PÚBLICO, o antigo Presidente da República dá nota negativa ao executivo e aponta para “um conjunto desarticulado e desorientado de ministros desgastados, sem rumo, sem ambição e vontade reformista”. “Um governo à deriva navegando à vista”, resume.

No terceiro artigo de opinião em seis meses (o primeiro foi em Abril), Cavaco Silva diz que sente falta de “reformas decisivas” que coloquem Portugal numa “trajectória de crescimento sustentável”. E traça objectivos. Fala em aumentar salários, aumentar pensões de reforma e em melhorar a qualidade da saúde e da educação.

Cavaco, que liderou as únicas maiorias absolutas do PSD, afirma ainda que era expectável que um Governo com apoio maioritário no Parlamento “adoptasse como uma das suas primeiras prioridades o desenvolvimento de uma estratégia reformista de médio e longo prazo”. E desafia António Costa a liderar “uma mudança de atitude do Governo”, o que deve ser feito com “urgência”.

No debate sobre política geral desta quinta-feira, no Parlamento, o primeiro-ministro desviou-se das críticas ao seu executivo para vincar que o seu compromisso é garantir respostas “aos problemas das pessoas” e não distrair-se com a “espuma dos dias” que marca “a agenda mediática”.

No seu artigo de opinião, o antigo Presidente da República mostra-se ainda preocupado com a “credibilidade” do executivo devido aos “comportamentos politicamente reprováveis de alguns membros do Governo”. E destaca dois casos: a “afronta política” do ministro das Infra-estruturas, Pedro Nuno Santos, e a reacção da ministra da Agricultura às críticas da Confederação dos Agricultores de Portugal (CAP) sobre a falta de apoios públicos para o sector.

Para Cavaco, António Costa “não podia deixar de demitir o ministro”. “Ao não fazê-lo, evidenciou falta de força política”, considera o também ex-primeiro-ministro. “A razão é ainda uma incógnita”, completa, com esperança que Costa venha ainda a revelar o que o levou a desculpar Pedro Nuno Santos. Ao agarrar o seu ministro, Costa “pôs em causa a sua autoridade” e “a credibilidade” do restante executivo. Mas houve um vencedor nesta história: Pedro Nuno Santos, que “saiu inequivocamente reforçado como candidato à sucessão do primeiro-ministro como líder do PS”, considera o antigo Presidente da República.

Quanto à ministra da Agricultura, Cavaco diz que a gravidade da declaração ultrapassa a governante. E lança a sua maior acusação do texto, dizendo reflectir “uma convicção enraizada” de que os apoios financeiros “devem ser orientados prioritariamente para os apoiantes do PS e para aqueles que se abstêm de criticar o executivo”. Uma convicção, prossegue, que “só pode resultar da cultura política por ela apreendida nas reuniões do Conselho de Ministros”, insinua. Umas linhas abaixo, Cavaco lamenta também “a prática do PS de vetar a chamada de ministros às comissões parlamentares”.

Numa nova ronda de desafios – desta vez não ao Governo – Cavaco pede à oposição, sociedade civil e comunicação social que ajudem António Costa e a sua equipa a saírem “da situação de imobilismo e encontrem um rumo”. O antigo líder social-democrata traça um objectivo concreto: colocar Portugal como o 15.º país mais desenvolvido entre os 27 países da União Europeia.

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