Na fronteira coreana, vice-presidente dos EUA condena “retórica nuclear provocatória” da Coreia do Norte
EUA, Coreia do Sul e Japão anunciam exercícios marítimos conjuntos, no dia em que Pyongyang disparou mais dois mísseis balísticos. Kamala Harris encontrou-se com o Presidente sul-coreano em Seul e visitou a Zona Desmilitarizada.
Kamala Harris engrossou esta quinta-feira a lista de dirigentes políticos de topo dos Estados Unidos que fizeram a simbólica visita à famosa linha de demarcação militar ao longo da fronteira entre Coreia do Sul e Coreia do Norte, mais conhecida por Zona Desmilitarizada (DMZ).
Em resposta, informou Seul, o regime de Kim Jong-un disparou dois mísseis de curto alcance na direcção da sua costa Leste. Foi o quinto lançamento balístico norte-coreano no espaço de apenas cinco dias e pelo menos o 30.º ensaio desde o início do ano.
Antes disso, empunhando um par de binóculos, a vice-presidente norte-americana confessou ter ficado surpreendida com a proximidade entre as forças e os activos militares dos dois países vizinhos – tecnicamente em guerra desde os anos 1950 – junto ao posto fronteiriço de Panmunjom.
De seguida, afirmou que o aparato securitário em redor da DMZ é a melhor prova dos “caminhos dramaticamente opostos” seguidos pelas autoridades políticas de Seul e Pyongyang.
“A Norte vemos uma ditadura brutal, violações grosseiras de direitos humanos e um programa de armamento ilegal que ameaça a paz e a estabilidade”, denunciou Harris, citada pela Reuters.
Afiançando que “o compromisso dos EUA com a defesa” da Coreia do Sul é “inquebrável”, a vice-presidente democrata acrescentou que Washington quer uma “península da Coreia estável e pacífica”, na qual a Coreia do Norte “deixe de ser uma ameaça”.
Na véspera da chegada de Harris à Coreia do Sul, esta quinta-feira, vinda do Japão – onde marcou presença no funeral de Estado do ex-primeiro-ministro Shinzo Abe, assassinado em Julho –, a Coreia do Norte disparou dois mísseis balísticos de curto alcance a partir da região de Pyongyang. No domingo já tinha disparado outro projéctil semelhante.
No encontro com o Presidente sul-coreano Yoon Suk-yeol, em Seul, antes da visita à DMZ, a vice-presidente condenou “a retórica nuclear provocatória e os lançamentos de mísseis balísticos” do regime de Kim Jong-un, revelou a Casa Branca, num comunicado.
O Governo norte-americano informou ainda que os dois dirigentes discutiram respostas conjuntas a “potenciais provocações futuras, incluindo através de cooperação trilateral com o Japão”.
Exercícios a três
Esta última nota é, precisamente, a maior novidade do final do périplo de Harris pelos dois principais aliados dos EUA na Ásia Oriental.
Depois dos exercícios militares conjuntos entre Coreia do Sul e Estados Unidos, realizados entre segunda-feira e quinta-feira, os dois países juntam-se às forças japonesas, já na sexta-feira, para manobras militares de defesa anti-submarinos no Mar do Japão.
De acordo com o Ministério da Defesa da Coreia do Sul, estes exercícios trilaterais – os primeiros entre as forças dos três países em cinco anos – têm como objectivo “responder à ameaça” norte-coreana e vão envolver vários navios de guerra, incluindo o porta-aviões norte-americano USS Ronald Reagan; o contratorpedeiro sul-coreano Munmu, O Grande; e um contratorpedeiro japonês do tipo Asahi.
“Esta formação está integrada nos passos dados pelo Ministério da Defesa para reabilitar a cooperação militar entre a Coreia do Sul, os EUA e o Japão para níveis anteriores a 2017, e para responder às ameaças nucleares e balísticas da Coreia do Norte”, explicou o ministério sul-coreano num comunicado.
“Escolhemos as águas internacionais do Mar do Japão como zona de treino, tendo em conta a ameaça dos SLBM [mísseis balísticos lançados a partir de submarinos] da Coreia do Norte e de outros sectores chave das actividades submarinas”, lê-se ainda no comunicado, citado pela agência noticiosa sul-coreana Yonhap.
Harris e Yoon debateram ainda a situação de escalada da tensão na região, causada pela visita recente da presidente do Congresso dos EUA, Nancy Pelosi, a Taiwan, a ilha que a República Popular da China reclama como província chinesa.
Segundo a Casa Branca, os dois líderes políticos concordaram que a manutenção da “paz e da estabilidade” no Estreito de Taiwan é “um elemento essencial para um Indo-Pacífico livre e aberto”.