Formar governo será fácil, “depois vão começar os problemas” em Itália
A provável eleição de Giorgia Meloni deve-se à sua decisão de se manter na oposição, diz o cientista político Marco Tarchi.
O cientista político Marco Tarchi considera que a imagem de pessoa “capaz de tomar decisões”, assim como a sua forma popular de falar, ajudam a explicar o sucesso eleitoral de Giorgia Meloni, líder do partido Irmãos de Itália, que todas as sondagens antecipam como vencedora das eleições legislativas deste domingo em Itália. No poder, a tensão entre Meloni e os seus parceiros de direita, a Liga, de Matteo Salvini, e o Força Itália, de Silvio Berlusconi, será permanente, diz o professor de Ciência Política, Teoria Política e Comunicação Política na Universidade de Florença.
Quais são as principais características da liderança de Giorgia Meloni (e que ajudarão a explicar o seu sucesso rápido)?
Segundo as sondagens, é reconhecida como tendo maior coerência e consistência do que os concorrentes. O seu partido foi o único que se manteve na oposição aos três governos que se sucederam durante esta legislatura. E tanto o Governo [de Giuseppe] Conte II como o Governo de Mario Draghi suscitaram muitas críticas entre os italianos. Esta escolha de Meloni parece ter sido eleitoralmente positiva. Para além disso, Meloni gosta de se apresentar com uma imagem de “decisora” e de sublinhar o seu modo popular de falar.
Que Meloni devemos esperar à frente do governo? Dialogante, com vontade de construir consensos? Ou disposta a impor as suas ideias aos parceiros de coligação e ao país?
Para se impor aos aliados, o Irmãos de Itália deveria ter uma maioria parlamentar, e isso é impossível. Mas Meloni, se for nomeada presidente do Conselho, deve procurar construir os seus consensos com os cidadãos, não entre as outras forças políticas. Estas o que vão é tentar desestabilizá-la.
Como antecipa a dinâmica dentro da coligação? Acredita que será difícil formar um governo?
No início vão procurar confirmar a imagem oficial de união no centro-direita e isso significa formar um governo em pouco tempo – mas aqui há a variável [Sergio] Mattarella, porque o Presidente da República, muito hostil à direita pode encontrar uma forma de tornar este processo mais difícil. Depois, vão começar os problemas por causa da grande heterogeneidade nas ideias e forças de acção entre a Liga e o Irmãos de Itália, por um lado, e a Força Itália e os moderados, por outro. Quando há governos de coligação é sempre assim: a história italiana dos últimos 75 anos mostra-o. É por isso que Meloni quer uma reforma que avance no sentido de um sistema político semipresidencial, que dê muito mais força ao partido do Presidente.