Mais de 70% nunca ouviu falar em Doença Pulmonar Obstrutiva Crónica

Estudo revela que mesmo no subgrupo dos fumadores – a população com maior risco de desenvolver DPOC – há um grande desconhecimento sobre a doença, factores de risco, sintomas, método de diagnóstico e impacto na qualidade de vida e na mortalidade.

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Com uma prevalência a rondar os 5,4% em Portugal e uma taxa de mortalidade de cerca de 8,7 por 100.000 habitantes, a Doença Pulmonar Obstrutiva Crónica (DPOC) está entre as principais causas de morte no país. Rui Gaudencio

Mais de 70% dos portugueses inquiridos num estudo sobre a Doença Pulmonar Obstrutiva Crónica (DPOC) nunca ouviu falar na doença e os que a conhecem têm uma percepção errada da gravidade.

Em declarações à agência Lusa, o presidente da Sociedade Portuguesa de Pneumologia (SPP), António Morais, confessa que os resultados foram uma surpresa, sobretudo pela dimensão.

“Efectivamente, acho que quando se vê que mais de 70% da população não sabe exactamente o que é uma doença que é das principais causas de mortalidade isso é estranho e surpreendente”, afirmou o especialista, sublinhando que já havia sinais anteriores deste desconhecimento.

O estudo, que será hoje apresentado numa conferência na sede da SPP, em Lisboa, indica que, mesmo no subgrupo dos fumadores - a população com maior risco de desenvolver DPOC - há um grande desconhecimento sobre a doença, factores de risco, sintomas, método de diagnóstico e impacto na qualidade de vida e na mortalidade.

António Morais defende que a relação entre os cuidados de saúde primários “pode e deve melhorar muito” e sublinha as dificuldades já conhecidas de acesso aos centros de saúde.

“Ainda existe um número importante de indivíduos que não têm um acesso directo porque não têm um médico de família atribuído”, recorda o especialista, frisando que a falta de literacia dos utentes tem muito que ver com “outras premissas”.

“Por exemplo, se, de facto os colegas que estão nos cuidados de saúde primários estão sensibilizados, para que doenças estão sensibilizados (...) e também pelos sinais que a tutela dá”, afirma.

Aponta os objectivos traçados pela tutela para os médicos de Medicina Geral e Familiar relativamente à diabetes e à hipertensão arterial, por exemplo, lembrando que “isso não acontece relativamente à doença pulmonar obstrutiva crónica”.

O pneumologista recorda que para fazer o diagnóstico desta doença é preciso que o utente faça uma espirometria (exame que avalia a função respiratória) e sublinha: “Acontece uma coisa caricata que é na maior parte dos diagnósticos de Doença Pulmonar Obstrutiva Crónica que ocorrem na Medicina Geral e Familiar os doentes não têm espirometria. Isto acontece porque efectivamente há uma dificuldade de acesso exactamente a esse exame”.

Com uma prevalência a rondar os 5,4% em Portugal e uma taxa de mortalidade de cerca de 8,7 por 100.000 habitantes, a DPOC está entre as principais causas de morte no país.

Os dados do estudo, recolhidos entre 15 de Junho e 17 de Julho de 2022, indicam que os consumidores de tabaco associam, por exemplo, o tabagismo ao desenvolvimento de doença oncológica, cardio e cerebrovascular, mas muitos revelam nunca ter ouvido falar em DPOC.

Cerca de um em cada três inquiridos afirmam conhecer ou já ter ouvido falar na doença, mas quando questionados sobre o que é a DPOC, apenas 27,5% reconheceu correctamente esta condição.

A gravidade percepcionada da doença por parte da população inquirida não corresponde à realidade, uma vez que 8% dos inquiridos considera que a DPOC não provoca a morte.

O estudo, desenvolvido pela Spirituc Investigação Aplicada, indica ainda que pouco mais de metade dos que conhecem a DPOC sabem que a espirometria é fundamental para conseguir identificar esta doença.

A tomografia computorizada (TAC) e o raio-x aos Pulmões (55,8% e 53,9% respectivamente) foram as opções de resposta mais referidas pelos inquiridos como os principais exames para diagnosticar a DPOC.

Sobre as doenças mais associadas ao tabagismo, o cancro do pulmão é a mais mencionada, com quase 90% de referências. Mais de três em cada quatro (78,7%) dos inquiridos associam o consumo de tabaco ao surgimento de uma DPOC e a terceira patologia mais associada é o cancro da garganta.

Os meios digitais desempenham um papel fundamental enquanto fonte de conhecimento sobre a doença, tendo sido referidos por quase 40% dos inquiridos como a forma através da qual tiveram conhecimento sobre a DPOC.

Segundo o estudo, apesar da sua “posição privilegiada” junto da população, o médico de família “parece ter um papel que fica aquém do que seria desejável”, com apenas 21,6% dos inquiridos a referirem-no como a fonte a quem recorrem para ter conhecimento sobre a doença.

Dados do Observatório Nacional das Doenças Respiratórias divulgados no final do ano passado indicam que, em 2018, a DPOC foi responsável por 2.834 óbitos em Portugal, o que equivale a oito mortes por dia.

Os últimos dados do Instituto Nacional de Estatística sobre as causas de morte em 2020 revelam que as doenças do aparelho respiratório (excluindo a covid-19) causaram 11.266 mortes.