Consultório: Os Vinhos Verdes são só para consumir jovens?

Questões pertinentes e dúvidas persistentes em redor do Vinho Verde, respondidas pelo crítico de vinhos e jornalista de gastronomia José Augusto Moreira.

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Rui Oliveira

A resposta é rápida: Claro que não, e cada vez menos. O potencial de envelhecimento em garrafa dos vinhos brancos é uma questão transversal à generalidade dos vinhos nacionais, enraizada que está nos consumidores a ideia de que os brancos são para beber jovens. Nos Vinhos Verdes, no entanto, ganha ainda mais evidência, sendo até comum que se rejeitem os vinhos que não sejam da última colheita. Uma asneira cada vez maior.

É claro que só vale a pena envelhecer alguns vinhos e que nem todos têm capacidade para uma boa evolução em garrafa. Mas com o crescente conhecimento das castas, uma enologia e viticultura apurada e o apetrechamento tecnológico nas adegas, essa é cada vez mais uma opção da enologia. Em regra, os vinhos nada perdem com um ou dois anos em garrafa, mas a partir daí é uma questão de terem sido ou não feitos para evoluir.

Hoje é absolutamente comum encontrarmos Vinhos Verdes encantadores com mais de cinco anos. Perfeitos na frescura e estrutura, requintados nos aromas e sabores. Vinhos que aparecem já nas cartas dos melhores restaurantes com indicação do ano de colheita, sendo como tal mais valorizados.

E até pelas castas e características naturais da região – acidez natural, grau moderado e maturações lentas – os Vinhos Verdes têm à partida condições ideais para uma boa evolução em garrafa. Produtores de referência como a Quinta de Sanjoanne sempre lançaram vinhos com vários anos após a colheita, sendo por isso uma referência nacional. Um exemplo que tem hoje já vários seguidores, sobretudo em Monção e Melgaço com os alvarinhos, mas também nos engarrafadores de loureiro, casta com especial aptidão para o enriquecimento em garrafa, tal com a avesso ou a azal.

E nem é uma questão de fermentação ou estágio em barrica, são mesmo as castas e as condições naturais. Os Vinhos Verdes estão a ganhar com o tempo. Experimente-se, por exemplo, com um coelho ou cabrito assados e ver-se-á que não foi tempo perdido. Os Verdes ganham com a idade. E muito.


Este artigo foi publicado no n.º 6 da revista Singular.

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