Rui Paulo Sousa será amanhã a terceira tentativa do Chega para a vice-presidência do Parlamento
Diogo Pacheco de Amorim e Gabriel Mithá Ribeiro, os dois primeiros nomes da bancada de André Ventura, foram chumbados em Março por mais de 80% dos deputados.
Desde o dia 1 de Abril que a Mesa da Assembleia da República funciona com apenas dois vice-presidentes depois do chumbo dos dois candidatos do Chega — Diogo Pacheco de Amorim primeiro, e Gabriel Mithá Ribeiro depois — e da IL — João Cotrim de Figueiredo. Cumprindo a promessa de não desistir de tentar ocupar um cargo a que tem direito, o partido liderado por André Ventura candidata nesta quinta-feira o deputado Rui Paulo Sousa ao lugar.
O deputado eleito pelo círculo de Lisboa é um dos homens mais próximos de André Ventura: foi o seu mandatário e director da campanha presidencial e acumula, no partido, os cargos de secretário-geral (depois de Tiago Sousa Dias se ter demitido da função), coordenador da comissão de ética e vogal da direcção. É ainda vice-presidente da bancada parlamentar.
Em Junho, Rui Paulo Sousa viu ser-lhe levantada a imunidade parlamentar para responder em tribunal num julgamento em que é também acusado André Ventura e os proprietários do restaurante em Braga onde realizaram um jantar-comício da campanha durante o estado de emergência decretado por causa da pandemia de covid-19. Foi nesse jantar que Rui Paulo Sousa disse, num discurso, que os “inimigos” do Chega estavam dentro da sala, o que levou os apoiantes a insultarem os jornalistas.
No fim-de-semana passado, no conselho nacional que decorreu na Batalha, fez uma das intervenções mais duras para com os críticos internos de André Ventura, a quem apelidou de “cambada de cobardes e ressabiados” por atacarem a direcção do partido mas não terem ido ao evento dizer de viva voz o que pensam. “Cresçam e apareçam"”, desafiou, para a seguir ironizar: “Mas eles não cresceram, o que é normal, nem apareceram.”
Tendo em conta que é o responsável pela comissão de ética, o órgão que fiscaliza o comportamento dos militantes, é expectável que vá continuar a assinar a suspensão de militantes depois de uma frase lapidar que gritou do palco: “Vão para o raio que os parta; rua daqui para fora!”
A 31 de Março, o deputado do Chega Diogo Pacheco de Amorim foi chumbado para o cargo de vice-presidente da Assembleia da República. Nessa altura, a surpresa da tarde foi a rejeição também do liberal João Cotrim de Figueiredo. Votaram 224 dos 230 deputados e Diogo Pacheco de Amorim teve apenas 35 votos a favor dos 116 votos necessários, obteve 183 brancos e seis nulos. Já João Cotrim de Figueiredo obteve 108 votos a favor, 110 brancos e seis nulos. Pelo PS foi aprovada Edite Estrela e pelo PSD Adão Silva.
Enquanto a IL não reapresentou candidato, na mesma tarde André Ventura avançou com a candidatura de Gabriel Mithá Ribeiro, o deputado que é também vice-presidente do partido, coordenador do gabinete de estudos e autor da revisão do programa do Chega. Mas também o seu nome ficou pelo caminho, com 37 votos a favor, 177 brancos e onze nulos (votaram 225 deputados). Apesar de até ter tido uma votação ligeiramente mais favorável que Pacheco de Amorim, Mithá Ribeiro alegou na altura que a rejeição do seu nome se ficou a dever a uma “questão racial” - apesar de ter ao seu lado André Ventura, que tem feito questão de garantir que não há racismo na sociedade portuguesa.
“Isto tem que ter uma interpretação racial: num regime que anda há décadas a defender que é anti-racista, que é a favor das minorias, contra a discriminação e financia organismos com esse propósito. Fica aqui claro que uma coisa é o discurso e outra é a prática”, apontou o parlamentar que disse ter muito orgulho na cor da sua pele e em ser moçambicano. Mithá Ribeiro enveredou depois por uma longa dissertação sobre a “questão racial” que diz ser diferente de “racismo”, insistindo na vitimização.
O resultado da votação já era esperado, depois de se saber que a esquerda tencionava votar em bloco contra qualquer nome que o Chega apresentasse.
Questionada pelo PÚBLICO se se mantém irredutível em não voltar a apresentar candidato à vice-presidência, a bancada parlamentar liberal respondeu que “as circunstâncias políticas que levaram a IL a não reapresentar candidatura a uma das vice-presidências da Assembleia da República no próprio dia 31 de Março, em que o nome de João Cotrim Figueiredo não foi votado por 116 deputados, não se alteraram. Por isso, a decisão de não apresentar uma nova candidatura mantém-se.”