Cresce a pressão para que a FIFA compense os trabalhadores do Mundial do Qatar
Más condições de trabalho e exploração laboral dos trabalhadores que constroem as infra-estruturas para o Campeonato do Mundo de futebol 2022 têm gerado indignação na opinião pública internacional.
É mais um dado que serve para sinalizar como a questão é relevante também para os adeptos de futebol. Segundo uma recente sondagem encomendada pela Amnistia Internacional (AI) 73% dos adultos inquiridos em 15 países espalhados pelo mundo apoiam a necessidade de a FIFA utilizar as receitas astronómicas que vai obter este ano com a realização do Campeonato do Mundo de futebol no Qatar para indemnizar os trabalhadores que tenham sido vítimas da violação dos direitos humanos nas obras de preparação do evento.
O apoio à medida é ainda mais elevado — atingindo os 84% — entre aqueles que admitem a possibilidade de assistir a pelo menos um jogo (que são 54%) de uma competição que deverá fazer a FIFA embolsar cerca de 5,9 mil milhões de euros em receitas.
Para além do desejo de ver a FIFA indemnizar os trabalhadores migrantes vítimas de violação dos direitos humanos, a sondagem revelou também que 67% dos inquiridos pretende que as suas associações nacionais de futebol se manifestem publicamente sobre as questões de direitos humanos associadas ao Campeonato do Mundo no Qatar.
Para já, questionadas por jornalistas, apenas as associações de futebol belga, dinamarquesa, holandesa, inglesa, alemã e norueguesa expressaram o seu apoio ao princípio de compensação, embora nenhuma tenha emitido uma declaração pública oficial apelando especificamente à FIFA para que estabeleça um programa de indemnizações.
Milhares de mortos
As notícias e denúncias de maus tratos, condições de vida e de trabalho degradantes e exploração laboral de milhares de migrantes que foram para o Qatar trabalhar nas obras de construção das infra-estruturas que irão acolher o Mundial de futebol de 2022 têm sido inúmeras ao longos dos últimos anos, mais concretamente desde que em Dezembro de 2010 se soube que a competição seria realizada naquele pequeno país do Médio Oriente.
Em Fevereiro do ano passado, por exemplo, foi anunciado um número absurdo de mortes, tendo por base dados governamentais da Índia, Bangladesh, Nepal e Sri Lanka, bem como da embaixada do Paquistão no Qatar. Entre 2010 e 2020 mais de 6700 trabalhadores destes países tinham morrido.
De fora desta trágica contabilidade ficaram países como o Quénia ou as Filipinas, também eles grandes fornecedores de mão-de-obra para a construção das infra-estruturas necessárias para a realização da prova.
Mais recentemente, a 14 de Agosto deste ano, cerca de seis dezenas de trabalhadores migrantes manifestaram-se à frente da sede de uma empresa que se dedica à construção e venda de imobiliário — Al Bandary — por causa de salários em atraso. Mas em mais um sinal de desrespeito pelos seus direitos, alguns destes trabalhadores foram presos e depois expulsos do país pelas autoridades do Qatar.
Campanha #PayUpFIFA
Os resultados da sondagem são apresentados pela AI como um sinal de reforço dos objectivos da campanha #PayUpFIFA, lançada em Maio de 2022 por um consórcio de organizações de direitos humanos e onde a AI se inclui. Nesta campanha apela-se à FIFA para que crie um fundo com um mínimo de 433 milhões de euros — o equivalente ao valor que distribui em prémios no Mundial — e cuja finalidade seja a de indemnizar trabalhadores dos abusos sofridos.
O Qatar, na tentativa de melhorar a sua imagem internacional, aprovou em 2014, uma série de medidas designadas como Padrões de Bem-Estar do Trabalhador, que visavam introduzir melhorias para os trabalhadores em locais oficiais da FIFA, como os estádios por exemplo. Só que estas medidas deixaram de fora dezenas de milhar de migrantes que trabalhavam noutros projectos essenciais para o Mundial, como transportes, serviços públicos e hotéis.
A sondagem agora encomendada pela AI, designada YouGov, inquiriu 17.477 adultos na Argentina, Bélgica, Dinamarca, Finlândia, França, Alemanha, Quénia, México, Marrocos, Países Baixos, Noruega, Espanha, Suíça, Reino Unido e EUA. O inquérito foi realizado online entre 16 de Agosto e 6 de Setembro de 2022.