Hepatite aguda infantil abrandou, mas mantém-se alerta com regresso às aulas

Em Portugal, há 20 casos de hepatite aguda em crianças – mais um do que no final de Julho. Esta doença já infectou mais de 1000 crianças na Europa, a maioria com menos de cinco anos, mas ainda não se sabe o que a origina.

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Em Portugal, houve 20 casos de hepatite aguda em crianças Daniel Rocha

Ao longo do Verão, os casos de hepatite aguda em crianças abrandaram. Em Portugal, desde o final de Julho só houve mais uma criança identificada com esta infecção que tem preocupado pediatras e cientistas um pouco por todo o mundo. O cenário mudou nos últimos meses. “Já não temos grandes preocupações”, avança Rui Tato Marinho, director do Programa Nacional para as Hepatites Virais da Direcção-Geral da Saúde (DGS).

Tato Marinho mostra-se confiante com o regresso às aulas e refere que dificilmente teremos uma situação igual. Em Portugal, houve apenas 20 casos de hepatite aguda em crianças, um contexto bem diferente do Reino Unido, que teve mais de 500 casos confirmados – metade dos mais de mil casos confirmados em toda a Europa. Entre as crianças infectadas no continente europeu, um terço necessitou de cuidados intensivos, sendo que 22 crianças precisaram de um transplante de fígado.

“Em Portugal, tivemos um grande número de casos comparativamente com a nossa população”, nota Piedade Sande Lemos, presidente da Sociedade Portuguesa de Gastroenterologia, Hepatologia e Nutrição Pediátrica.

A pediatra concorda que não há motivos para preocupação, mas mantém a guarda alta. “Estamos alerta. Estamos ainda todos em alerta, porque sabemos que este foi um fenómeno que se pode repetir e ter a sua sazonalidade, e está tudo preparado para o caso de acontecer”, aponta Piedade Sande Lemos.

O estado actual é de “expectativa armada”, descreve Tato Marinho. “Estamos preparados e há uma mentalidade a nível dos sistemas de saúde mundiais de que temos de estar preparados para a possibilidade de uma nova pandemia ou uma situação diferente do que estamos habituados. A varíola-dos-macacos é um exemplo disso”, explica, atentando ainda para a decisão cautelosa da Organização Mundial de Saúde em manter o risco da doença num nível “moderado”.

O culpado continua por encontrar

A pergunta mais recorrente é “de onde surgiu?”. Não existem ainda respostas correctas. Existem duas hipóteses principais que podem explicar o rápido aparecimento destes casos de hepatite aguda infantil, que já afectou mais de mil crianças em todo o mundo: a maior susceptibilidade aos adenovírus devido à menor exposição durante a pandemia; ou uma hiper-reacção a estes vírus devido a uma infecção anterior com covid-19. Nenhuma delas tem dados suficientes para ser a mais provável, mantendo-se a origem repentina da doença por descortinar.

Apesar de ambas as hipóteses terem como pano de fundo a pandemia, as vacinas contra a covid-19 não estão envolvidas. Desde que surgiram os primeiros casos de crianças com a doença, em Outubro do ano passado, as vacinas foram uma das principais suspeitas para a origem desta infecção. No entanto, duas investigações britânicas realizadas de forma independente descartaram esta relação no final de Julho deste ano.

Ambas as equipas de investigação encontraram elevados níveis do vírus adeno-associado 2 (AAV2, na sigla em inglês). Este é um vírus sobre o qual conhecemos pouco e que não estava associado a doenças em humanos, já que não se consegue replicar sem a ajuda de um vírus auxiliar (como outro adenovírus ou um vírus de herpes). Daí que, estas duas investigações realizadas no Reino Unido apontem para uma outra explicação: a co-infecção a partir de dois vírus.

“Continuamos sem saber de onde vem o aumento repentino destes meses. Há muitas causas que podem deixar o sistema imunitário mais exposto, como o isolamento das crianças. Mas ainda não conseguimos responder”, diz Sande Lemos.

Mas, mais uma vez: são apenas hipóteses. Desde o aparecimento do vírus em crianças, as novidades têm surgido a conta-gotas. Para o futuro poderá haver um resultado mais concreto que explique as causas para mais de mil crianças infectadas com um misterioso vírus.

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