A Casa Portuguesa de Pedro Penim é um lugar onde tudo muda

Convocando para o espectáculo o fado popularizado por Amália, o novo director do D. Maria II arranca a sua primeira temporada com uma Casa Portuguesa que quer ser transformada.

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dro daniel rocha - 12 setembro 2022 - PORTUGAL Lisboa espectaculo teatro Casa Portuguesa do Pedro Penim no D Maria II. Daniel Rocha/PUBLICO

A casa está em ruínas, decrépita, recheada com objectos velhos e estátuas escaqueiradas. É uma casa que é um país. Ou melhor, é uma casa que é uma certa ideia de país, também ele esclerosado, gasto, memória de um outro tempo de má memória, com os pés para a cova, pronto a morrer — apesar de espernear e tentar resistir ao seu definhamento. À esquerda da casa, num ponto um pouco mais elevado que as coloca a salvo desse chão de destroços, Lila Tiago e João Caçador (as Fado Bicha) volteiam em torno de Uma casa portuguesa, a canção de Reinaldo Ferreira e Vasco Matos Sequeira popularizada por Amália Rodrigues e que parece impressa com um ferro em brasa no imaginário colectivo nacional. Passam pelos versos, riem-se e comentam esta “alegria da pobreza” que “está nesta grande riqueza / de dar e ficar contente”, questionam o sentido deste “pão e vinho sobre a mesa”, essa ideia de solidariedade na miséria como mais elevado desígnio de um povo. Vemos e ouvimos as Fado Bicha e aquilo a que assistimos não é bem um ensaio; é uma autópsia cantada de um país que não quer encaixar-se naquele retrato salazarista, de uma casa que não se quer conformar em ser um retrato bafiento do que significa viver neste território.

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