Movimento quer dar visibilidade às 663 árvores que a Metro Mondego já começou a abater
Em Coimbra, os últimos cinco plátanos da Avenida Emídio Navarro foram derrubados nesta segunda feira, apesar de campanha popular para os manter.
A manhã da investigadora da Universidade de Coimbra, Maria João Feio, arrancou ao som de motosserras. “Tivemos um triste dia”, introduz a bióloga especializada em ecologia urbana, que começou por alertar para a iminência do abate das árvores de grande porte na Avenida Emídio Navarro, ao PÚBLICO. “Começaram pelas 8h00. Quando fui à janela, vi que estavam a vedar a zona. Começaram pela árvore mais pequena, depois passaram para as outras rapidamente, com uma grua”, descreve. Ao meio dia, o trabalho estava concluído.
O anunciado derrube de cinco árvores para instalar o canal dedicado dos autocarros eléctricos do metrobus avançou esta segunda-feira, em Coimbra, apesar da contestação popular que se gerou desde Julho. Para evitar um desfecho semelhante, o movimento ClimAção Centro quer conhecer detalhadamente o plano de abate das 663 árvores, desenhado no âmbito do projecto do Sistema de Mobilidade do Mondego (SMM).
O objectivo, explica o membro do movimento ClimAção Centro, Miguel Dias, é “dizer às pessoas qual é o preço de um autocarro eléctrico articulado no centro de Coimbra com um traçado que foi feito à revelia da estrutura verde da cidade”.
O movimento de activistas climáticos chegou a remeter à Sociedade Metro Mondego uma proposta de alteração do traçado do canal do metrobus, na Avenida Emídio Navarro, que permitisse poupar as árvores. A empresa, que explicou que o canal foi assim desenhado por ser a solução que menos penaliza o trânsito automóvel, analisou a hipótese, mas concluiu que não era possível desviar o percurso.
Miguel Dias, que diz que a autarquia e a SMM não estão a fornecer os planos de abate, refere que a luta do movimento “era por um metrobus verde”. “Ninguém na Europa faz o que a SMM e a Infra-estruturas de Portugal estão a fazer na cidade de Coimbra. Em 2022, activistas climáticos não deveriam ter que protestar contra um projecto de mobilidade”, lamenta. E aponta para o risco de serem abatidos plátanos na Avenida Sá da Bandeira e jacarandás numa das ruas que ladeia o Jardim da Sereia.
A campanha do ClimAção para identificar as árvores que a SMM quer abater ainda não tem data para começar.
Em Março, a SMM apresentou um plano de rearborização da cidade para compensar os abates e tornar algumas das áreas da cidade que acompanham as linhas urbanas mais verdes. “Um dia, daqui a 20 anos, voltaremos a ter árvores de alguma dimensão. Entretanto há mais ondas de calor, temperaturas mais elevadas e estamos a fazer tudo ao contrário”, nota Maria João Feio.
Agora, na Avenida Emídio Navarro, em vez de plátanos há um vazio, observa a investigadora. “Continuar estes abates na cidade vai ter um efeito dramático não só em termos visuais, mas também na temperatura, na humidade e na protecção contra os ventos”, adverte.