Quer poupar electricidade em casa? Deixamos aqui várias sugestões
Em casa, a electricidade que os portugueses gastam é, maioritariamente, na cozinha e nos equipamentos eléctricos. É preciso ter consciência na utilização da electricidade, defende especialista.
Minimizar o gasto de energia é uma estratégia recorrente para responder aos aumentos do custo da energia, principalmente quando há uma crise energética e subidas dos preços da energia. Nesta quinta-feira, o Governo aprovou um plano de poupança de energia para 2022 e 2023 para os serviços de administração pública, que deixa ainda recomendações para as autarquias e as empresas. Neste contexto, o que é que cada cidadão pode fazer a nível doméstico para também poupar nesta fonte de energia? Várias acções. Tal como fizemos em relação ao gás, apresentamos aqui algumas sugestões para evitar gastos desnecessários de electricidade, que podem ter peso na factura.
Antes de começar, é necessário compreender a dimensão do consumo eléctrico em casa. Em 2021, o Instituto Nacional de Estatística (INE) publicou um relatório sobre o consumo de energia no sector doméstico a nível nacional. Do relatório, retiram-se duas informações importantes. Por um lado, dos gastos que os portugueses fazem nos vários tipos de energia, 69,6% são de electricidade. Esta proporção tende a aumentar à medida que as novas casas construídas deixam de usar gás para cozinhar e para o aquecimento de água. Por outro lado, dentro do gasto da electricidade, 42,7% é usada na cozinha e 46% é usada nos equipamentos eléctricos. Logo, estes são os dois principais sectores onde se pode reduzir o consumo.
Mas há outro aspecto do consumo de electricidade que é necessário ter em atenção. “O consumo de energia está associado ao tempo de utilização dos equipamentos e à sua potência”, explica ao PÚBLICO Carlos Raposo, engenheiro da Lisboa E-Nova, Agência de Energia e Ambiente de Lisboa. Aparelhos de grande potência, como a torradeira, gastam mais energia, mas se estiverem ligados apenas alguns minutos, não têm um peso maior no consumo eléctrico. Por isso, é preciso observar que uso se dá aos vários equipamentos, explica Carlos Raposo. “Os frigoríficos [ligados durante o dia todo] e equipamentos que ficam em stand-by [adormecidos], como os routers e a box dos televisores, podem representar 30% do consumo de electricidade numa residência”, avisa o engenheiro.
Na cozinha
De uma forma geral, é importante “ter consciência na utilização da energia”, refere Carlos Raposo. Há situações que não é necessário gastar electricidade: não ligar as luzes de dia, quando há luz natural suficiente; desligar as luzes quando se sai das divisões e desligar os aparelhos que não estão a ser usados, como os televisores e os computadores.
Na cozinha, há formas de optimizar o uso de electricidade a cozinhar, no uso das máquinas de lavar roupa e loiça, e em relação ao frigorífico.
Para quem tem placas de indução ou de vitrocerâmica e fornos eléctricos, há vários gestos simples durante a preparação de refeições que podem optimizar o gasto de energia (aplicáveis também para quem tem fogão a gás). É possível tapar as panelas com a tampa para acelerar a fervura, preparar refeições maiores, para mais dias, evitando cozinhar repetidamente; cortar os alimentos em pedaços mais pequenos, permitindo que eles cozinhem mais depressa; assim que a água começar a ferver, baixar o aquecimento; usar a panela de pressão para alimentos de cozedura mais difícil; ajustar a quantidade de água à quantidade de alimento que se está a cozer; desligar as placas de indução uns minutos antes de a refeição estar pronta e deixar o calor residual e a panela fazerem o resto do trabalho. Em relação ao forno, é importante aproveitar vários pratos para cozinhar ao mesmo tempo; evitar abrir e fechar o forno várias vezes; desligar o forno minutos antes de o prato ficar pronto, para aproveitar o seu calor.
As máquinas da loiça e roupa
Saltando para as máquinas de lavar roupa e loiça, é importante enchê-las, para assim diminuir a frequência da sua utilização. No caso da máquina da roupa, não se pode encher totalmente, é preciso deixar um espaço para que a roupa seja lavada como deve de ser. Mas outra forma de poupar é usando a água fria. “A roupa tenta-se lavar a frio, nem que o programa seja mais longo, já que o grande consumo da máquina é no aquecimento da água”, explica Susana Fonseca, vice-presidente da associação ambientalista Zero, ao PÚBLICO. Os programas longos conseguem lavar bem a roupa, mesmo servindo-se de água fria.
A máquina da loiça não tem de ser sempre uma opção. Quando há pouca loiça, é possível optar-se por lavá-la à mão, deixando-a secar ao ar. Quando há muita loiça, é possível escolher o modo ecológico das máquinas, mais longo, mas mais poupado.
Frigorífico e etiquetas
O frigorífico pode chegar a consumir 20% da energia de casa. Por isso, é importante mantê-lo a funcionar eficientemente: deve-se descongelá-lo regularmente, evitando que acumule gelo no congelador; o aparelho não pode estar encostado à parede e deve estar afastado de fontes de calor, como o fogão e a janela.
“A temperatura à qual o frigorífico e as arcas trabalham também pode ser regulada para valores mais adequados”, lê-se no 25 Eco-gestos Energias, um guia ilustrado publicado em 2020 da colecção Lisboa Capital Verde. Para a conservação dos alimentos, as temperaturas ideais são entre os quatro e os seis graus, já a nível do congelamento, são entre os -15 e os -18 graus. Outras dicas em relação ao frigorífico é tentar abri-lo menos vezes possível e não colocar alimentos quentes nele.
Ainda na cozinha, Susana Fonseca tem mais uma sugestão. “Tentar aquecer apenas a água que se necessita. É válido para as chaleiras e para as placas eléctricas”, diz.
Já para Carlos Raposo, é importante “ter noção energética dos equipamentos em uso”, refere. Assim, quando há oportunidade de se substituir ou de se adquirir um equipamento deve-se “ter em atenção a etiqueta energética para verificar a eficiência do equipamento a adquirir”, adianta.
O resto da casa
Em relação ao resto da casa, uma das fontes de gasto de energia são as lâmpadas. Apesar de 80% das lâmpadas nas casas portuguesas já serem LED, segundo o relatório do INE, nunca é demais relembrar a importância de substituir as lâmpadas de halogéneo pelas LED. Por outro lado, a utilização de fichas triplas com corte de corrente ou tomadas inteligentes (conectam-se à rede wi-fi e permitem ligar ou desligar remotamente os aparelhos) garantem que os aparelhos ligados à corrente não gastam, de facto energia. No caso de haver luzes exteriores, Susana Fonseca recomenda o uso de sensores. “Só com o movimento é que a iluminação é activada”, refere.
Finalmente, em relação ao aquecimento da casa, é possível melhorá-lo antes de ligar o aquecedor. A calafetação das portas e das janelas é essencial para evitar a saída de ar quente (mas não se deve esquecer de arejar os espaços, o que deve ser feito nas horas de maior calor). Enquanto houver sol no Inverno, é importante abrir persianas, portadas e cortinas para deixar a luz entrar e aquecer naturalmente o interior da casa. Por outro lado, o uso de roupas deve ser apropriado à estação.
No entanto, quando se liga o aquecedor, “será importante isolar o máximo possível a divisão, fechando janelas e portas de acesso, para reduzir o intervalo de tempo no aquecimento, tendo em atenção a necessidade de renovação do ar”, conclui Carlos Raposo.