O turismo “reinventou-se”. Recorde de receitas chega antes do previsto, diz Costa Silva
No terceiro dia da Academia Socialista, uma iniciativa destinada aos jovens socialistas entre os 18 e 30 anos, o ministro da Economia e do Mar falou sobre o peso do turismo na economia portuguesa, defendeu que o modelo “de excelência” do sector deve ser republicado, falou da crise climática e prometeu uma mudança do perfil produtivo com as empresas.
O ministro da Economia e do Mar, António Costa Silva, quer reproduzir o modelo de sucesso no turismo noutras áreas “para criar diferentes motores no processo de desenvolvimento”. Na sua “aula” na Academia Socialista, iniciativa que decorre até domingo na Batalha, o ministro sublinhou a importância do sector para a economia portuguesa e adiantou que o recorde de receitas com o turismo de 2019 será batido já este ano. “Muita gente achava que só chegaríamos lá em 2023 ou 2024, mas o turismo reinventou-se”, declarou.
Pelo meio, Costa Silva elogiou o pacote de apoio às famílias anunciado pelo primeiro-ministro na segunda-feira, não se pronunciando sobre as medidas que a sua tutela estará a preparar para o apoio prometido às empresas. “O pacote que foi criado é uma questão vital para o futuro. Combater a desigualdade tem de estar no centro das preocupações”, afirmou.
Contente com o peso que o sector continua a ter na economia, António Costa Silva disse que não só é preciso “acabar com o preconceito” em relação ao sector, como multiplicar o modelo de sucesso do turismo para outras áreas económicas de forma a criar “novos motores de desenvolvimento” para os cofres do país.
Segundo o ministro da Economia e do Mar, os países que, “de forma significativa”, mais têm contribuído para o crescimento do turismo em Portugal são os Estados Unidos, o Canadá, a Alemanha e o Reino Unido. E, “embora exista preconceito contra o turismo”, o sector é “um dos grandes motores”, representando 20% do peso das exportações e tendo chegado a representar uma fatia de 14% do PIB em 2019.
Costa Silva admite que, no actual contexto são números que “podem surpreender muitas pessoas”, até porque, continua, existe uma “tendência de subestimar a dinâmica endógena da economia portuguesa”. O ministro lamentou ainda que, “infelizmente”, Portugal seja um país – “que exponencia todos os dias na galáxia mediática o que são problemas e dá pouca atenção às respostas do país na sociedade”.
O ministro sublinhou ainda que o crescimento da economia portuguesa no primeiro trimestre deste ano foi “o maior crescimento da União Europeia”, embora reconheça que isso se deve à base de crescimento em período homólogo, que era muito mais baixa. “Tivemos um crescimento de cerca de 7% no primeiro semestre e vamos, provavelmente, ter algum abrandamento no resto do ano em função das tensões inflacionistas e do que está a ocorrer na Europa”, avisou. Além disso, uma vez que 60% do mercado de exportação do país tem como destino território europeu, “qualquer abrandamento na Europa terá consequências em Portugal”. E alertou para o “abrandamento da economia até ao final do ano”.
Costa Silva quer também “um país que não continue assente num modelo de baixos salários” e pede por isso uma maior aposta na inovação tecnológica. Um dos caminhos será aproveitar o Plano de Recuperação e Resiliência e as agendas mobilizadoras com o objectivo de “mudar o perfil produtivo da economia portuguesa”. “Somos um país que dentro de algum tempo pode fabricar material circulante para a ferrovia”, exemplificou.
O governante está ainda preocupado com os efeitos da guerra à crise climática. “Não podemos subestimar a amplitude da estupidez humana. Quando se devia unir para fazer face à crise ambiental que temos pela frente há uma guerra que deflagra na Europa”, afirmou. “Deixar a sustentabilidade e as questões ambientais para segundo e terceiro plano será um erro fatal”, alertou Costa Silva.
O ministro alertou ainda que “a próxima grande crise vai ser alimentar” e acredita que “a resposta vai vir da fileira alimentar do mar”. Por isso, e pelo potencial do Mar, “é fundamental dotar a economia portuguesa de instrumentos mais competitivos”.
Costa Silva deixou críticas ao “capitalismo financeiro desregulado” e às limitações que o modelo impõe à economia e sociedade globais. “É um modelo que é predador dos recursos naturais do planeta”, começou por explicar, num tom alarmado. E prosseguiu para citar alguns números do estudo da organização United States Geological Survey sobre a evolução do consumo nos últimos 70 anos, em termos percentuais, que inclui um consumo de 618 vezes mais petróleo e 1000 vezes mais gás. “Somos uma civilização a transformar recursos em lixo de uma forma sem precedentes na nossa História”, assinalou, para justificar o pacote que está a ser preparado pelo ministério “para apostar na economia circular e mudar o paradigma”.